Enquanto os teus olhos descansam, enquanto a tua respiraçāo serena...
Todos os dias corro pela casa contra o relógio. Todos os dias sem saber como será o próximo. Sem ser dona do tempo, nem do meu nem do teu, corro para que tudo seja organizado, controlado, tranquilo. Corro para quando acordares nāo chorares. Corro para que a vida tome o seu rumo normal e apanhe o próximo comboio que passa...
E passa, passa sempre de 15 em 15 minutos. E de 15 em 15 minutos vamos perdendo cada comboio novo. O que vale é que passam e tornam a passar. E nesta vida quando se perde o comboio ainda se tem o metro. Sem metro, ainda se tem o autocarro. Sem autocarro, ainda o táxi. Sem táxi, ainda a boleia dos carros. Sem carros, os aviões.
Sem aviões... Já chega:
Tenho-te a ti. Sim, tenho-te sempre a ti.
Enquanto os teus olhos se fecham e a tua respiraçāo serena, todos os dias anseio pela calma de te guiar. Pela calma de te acalmar.
O primeiro mês nāo foi fácil, difícil para o corpo.
O segundo vai sendo aquilo que deve ser.
O tempo cresceu, como tu. Vai crescendo.
E enquanto os olhos te fecham: levanto-me, corro, limpo, organizo, faço tudo.
Para quando os teus olhos se abrirem.
Enquanto os teus olhos se fecham escrevo. Escrevo para quando um dia for a tua vez tu saibas:
Nāo é fácil. Ninguém mais to dirá, ou poucos to dirāo.
Mas nāo é fácil. Porque o corpo chega a doer de cansado.
Porque o cansaço chega a todo o lado. E ninguém antes te disse.
Mas a todo o lado... à memória, à alma, a todo o lado.
É assim. Sem angustiar o amor. Sem abanar o amor.
Como se as estradas corressem lado a lado. É assim com todos como nunca ninguém te diz.
Quase nunca. Pois parece mal.
Mas de mal pouco tem.
É real. É humano. É verdadeiro.
Enquanto os teus olhos se abrem, os sorrisos. Os teus e os meus.
Cada vez maiores, cada vez melhores. Os sorrisos. Os olhos.
Os teus e os meus. O segredo... na maneira de os abrir.
Na maneira de sorrir. Na forma de olhar.
Enquanto os teus olhos se abrem, os meus juntam-se aos teus.
Tinha muitas saudades de te escrever. As saudades que tinha de vos escrever.
Os tempos mais difíceis passaram e voltarei a estar mais por aqui.
Esperemos que sim. Esperemos que sim.
... Os meus juntam-se aos teus.