© Ana Rocha De Sousa
Pode parecer estranho... Mas foram 3 anos.
Três anos fora do país. Fora deste meu lugar. Num outro incrível e ambicioso sonhar.
Desde que voltei, no entanto, continua a existir algo para limpar, arrumar, ajeitar, guardar e voltar a limpar, e limpar e nāo sei se já tinha dito: limpar, organizar, escolher, e limpar, limpar, limpar, limpar.
A que me refiro? Refiro-me a mais caixotes e caixas que só agora desaparecem ou encontram o seu novo lugar.
Nāo daqui de casa.
Mas sim... Desta "minha" casa: de mim.
Ainda.
Porquê? Porque na realidade foram muitas as coisas empacotadas que se dispersaram por vários lugares. Aqui e ali, em todo o lado. Um cansaço esgotante em mim. Quase quase no fim mas parece ser interminável. Muitas coisas importantes, muitas coisas para dar, muitas para vender, muitas sem sequer saber o que fazer.
Na realidade, tudo vindo de uma antiga casa cá, uma casa em Londres e um atelier em Lisboa. 3 mudanças numa. Na realidade 4. Ao todo 4 lugares.
Sem nada a ver com a nossa casa nova para te receber, Amália. Nada. Mas sim, as inúmeras caixas de luz do meu trabalho de artes plásticas. Os desenhos, os quadros, as experiências, os trabalhos todos de belas artes... Tudo isso em conjunto ainda com candeeiros ou abat-jours que sāo para vender porque estāo quase novos, impecáveis e lindos vindos de Londres... Isso ou fotografias, ou mais casacos... Mas nāo tenho mais lugar em mim para tudo isto. Ou mesmo para todas aquelas camisolas, malas, sapatos que têm um melhor destino que este... Melhor que este aqui... Este já sem lugar em mim...
Ontem sem tempo. Hoje sem tempo. Eram 07h30 quando hoje o dia começou. E nāo acabou. Nem vai acabar. Nāo acaba.
E hoje que começa a semana 37.
37 semanas.
Antes de tu chegares, meu amor, nāo quero ter nada pendente. Quero tudo tratado. Tudo no seu lugar, o que tiver lugar. Sem lugar fica o mundo suspenso de caixotes de caixeiro viajante. Sem lugar fica o que nāo serve, o que atrapalha. Sem lugar fica tudo o que tenta ganhar espaço no teu caminho.
Nāo há lugar para o que se tentar pôr no teu caminho.
Quando chegares a vida começa. Sem passado. Sem caixas. Sem gavetas por arrumar.
Quando chegares o meu mundo que estremeça. Sem tempo. Sem limites. Sem pesos para carregar.
Espera por favor, só mais um bocadinho porque estou mesmo quase a acabar.
Já sāo 37. Eu sei. Estamos mesmo quase a acabar.
Mentira.
Mentira.
Estamos mesmo quase a começar.
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