Hoje apetecem pouco as palavras. Na minha frente, nos meus olhos, a cada dia o início e a cada dia o fim.
A vida brindou-me com a felicidade do nascimento mas bateu-me à porta a tristeza da eminente despedida.
Chama-se Fernanda, a minha vóvó Fernanda. A doença e a dor têm levado a melhor.
Hoje, no quarto, as duas camas feitas. No canto o cadeirāo, uma cadeira de rodas e um vulto de amor em dor. Entre lágrimas dizia:
"Tive azar no fim da vida. A culpa foi daquela queda... Sem me mexer deixei de conseguir fazer tudo por ela"
E chorava. Também ele se prepara para a despedida.
"Achas que ela volta?"
Nāo sei. Nāo sei. É difícil. Que mais lhe diria?
O relógio quase às cinco horas.
Agora no hospital: as batas, o desinfectante, as regras.
"Hoje pode entrar. Mas nāo saia sem passar o desinfectante. Fique o tempo que quiser"
Nāo é verdade. Esse tal "tempo que eu quiser" nāo existe. Está a acabar.
Sei pouco desta vida mas sei que a minha avó nada perto deste fim merecia.
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