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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Hora Do Banho


Com dias ou meses choram desalmadamente na hora do banho. Aquele arrepio, aquele desconforto do desconhecido. O tempo passa, o problema vira outro… 

- Amália, temos de sair do banho!
- Na! Na! Na!
- Amália, meu amor, nāo se pode viver dentro de água. Anda lá!

E nisto, inicia-se todo um processo de adeus, tchau, buy buy. É precisamente nesta altura que eu penso todos os dias o mesmo: ela gosta mesmo de água. Ela gostava de viver dentro de água. 
Encharcada, divertida no seu chap chap com o pa, mais conhecido por pato, diz-me adeus várias vezes e de todas as formas e feitios, na esperança genuína de me ver pelas costas. Na esperança amorosa de simpaticamente me explicar: 
- Māe, nāo é preciso chegar aos 16, esta tarefa já seria muito melhor sem ti aqui…  

Claro que é precisamente na altura em que tenho de pegar nela ao colo para a tirar e embrulhar na toalha. Os próximos minutos sāo sofridos. Os dela e os meus. Ela chora horrores com a sentida separaçāo "infinita" destas 24 horas até ao próximo banho, e eu fico no sufoco do choro dela por ter de a contrariar. Claro.

Ouvi, li e vi birras… Se vi, se li, se sei, se as fiz… 
Quero agora tirar um mestrado para saber como lidar com elas. Sinto que estāo mesmo aí.
Socorro… Por agora é a hora do banho… E amanhā? Ou depois… 
Tenho de me preparar. 



segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Educar A Alimentar


A alimentaçāo dos miúdos pode ser um pesadelo. Nalguns casos porque pura e simplesmente eles nāo querem comer ou porque nāo sabemos como fazer os miúdos comer.  
Desde cedo, a pediatra da minha filha sempre me tirou um peso enorme de cima... Nāo vale comprar guerras, nāo vale a pena, sempre que ela nāo quiser comer nāo come. Assim foi, assim teve de ser. 
A vontade teve de partir dela. Foram algumas as vezes em que, ainda mais bebé, isso aconteceu. Para aprender a comer a sopa foi difícil, foi um pesadelo. Passou. 
Como? Nāo queria, nāo comia. Eu insistia. Errei por vezes e obriguei. Só tive sucesso quando mudei de atitude. Falei com a médica e percebi: tente apenas, nunca obrigue! Só assim resultou. 

Hoje, a maioria das vezes, ela come tudo. Quando digo tudo, é mesmo tudo. Como a fotografia prova, chega mesmo a olhar o prato a meio milímetro e a tentar perceber se dali nāo vai nascer um admirável mundo de massa, esparguete, arroz, carne ou peixe… Na realidade, qualquer coisa… nem que seja um boneco desenhado, um elefante ou uma princesa de laço.  
Muitas vezes remata ainda com um Ohhhhhhhhhhh na última colherada… Quem chega naquele momento, invariavelmente acredita que a miúda está com fome. É o ar dela incrédulo a avaliar o fundo do prato. Bem diferente é a expressāo de quem vê o prato, acabadinho de servir a chegar à mesa. 
É importante servir a quantidade certa. Qual a quantidade certa? Pois...
Na era das desordens alimentares pode ser difícil responder a essa pergunta. Se os miúdos nāo apresentam nenhum distúrbio alimentar nem qualquer problema de peso, a dose certa é exactamente o que eles querem comer. Os miúdos, como nós, nāo sāo máquinas. Uns dias temos mais apetite e noutros temos menos. Interferir na alimentaçāo ao ponto de obrigar um bebé ou uma criança a comer pode trazer consequências futuras. Sāo guerras eternas que se constroem e que marcam profundamente a relaçāo dos miúdos com a comida. Comer deve ser um prazer para além da necessidade. 

É nossa missāo enquanto pais, ensinar a comer. Educar a alimentar. Alimentar educando. Saber comer é ter com a comida uma relaçāo saudável. E é nessa ligaçāo que tantas vezes se encontram respostas a muitas perguntas. 
Sempre que a Amália faz o seu "Ohhhhhhhhhhh", a seguir ainda come fruta e fica bem. Nāo chora com fome. Nem chora para se encher até cair para o lado. Também sei que se lhe desse mais massa depois do "Ohhhh" ela comia. Claro. E é esse o papel fundamental dos pais: temos de aprender a perceber a diferença entre "gosto tanto disto que enquanto me deres eu nāo páro" e o verdadeiro "māe, ainda tenho fome." Por outras palavras… O que eles querem comer com vontade e gosto é diferente de alimentar barrigas insufladas como um balāo e habituar a comer até explodir. É também, em parte, matemática. Se uma barriga é tāo pequenita, nāo pode naturalmente encher com doses que duplicam o seu tamanho. Como em tudo, é no equilíbrio que está a dose certa. 
Difícil também é quando nāo gostam de comer. 
O mundo por descobrir torna uma "chatice" o simples acto de sentar e comer. Trazer para a hora da refeiçāo o prazer e o convívio pode fazer milagres. Nunca, mas nunca, obrigar a comer. Aprendi com quem sabe.
Até porque na verdade, nenhuma criança passa fome com um prato de comida na frente. 
Forçar nāo é soluçāo.  
Vale educar a alimentar e alimentar educando.

sábado, 19 de setembro de 2015

Adeus Fralda


Os entendidos no assunto dizem que para um bebé deixar a fralda precisa chegar aos dois anos habitualmente. Nos casos em que antes disso começam a utilizar o bacio (ou sanita com redutor), o que defendem acontecer, é mero resultado reflexo do conhecimento dos pais em termos das regularidades das necessidades dos filhos. Regularidades ou irregularidades à parte… Hoje aconteceu algo especial. A minha pequenita, de fralda posta desde que nasceu, estava na sala e começou a sentar-se sobre si mesma. Parecia um gesto reflexo para se sentar num bacio imaginário. Longe de acreditar na resposta, perguntei por graça: Meu amor, queres ir à casa de banho? Fiquei de queixo à banda quando a resposta foi - simmmmmmmmm. Como māe prevenida e esperançosa tinha em casa um bacio à espera da nova fase a qualquer momento. No fundo do meu pensamento estava sempre um "nāo pode ser!". 
Pode, ai isso é que pode. Nāo interessa nada entrar em grandes detalhes. A verdade é que hoje, cá em casa, começou espontaneamente o processo "adeus fralda". Espantem-se os entendidos ou nāo… Aos 18 meses é possível. Com 18 meses dizem pouco, entendem muito, respondem a tudo. 
Nāo tive de ensinar nada para além de lhe perguntar e validar a sua resposta. 

Hoje foi o primeiro dia. É de rir, mas cá em casa foi mesmo uma festa. 
E que mal tem? Para uma boa festa é apenas preciso uma excelente razāo. 
Foi assim a festa do "Adeus fralda"




sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Regresso Às Aulas


Lembro o frio na barriga do regresso. Um misto entre a tristeza que fica na memória de cada grāo de areia e a vontade genuína e entusiasmante de regressar. O cheiro dos cadernos novos e o papel colante a brilhar. A mochila acabada de comprar e o estojo em lata cheio de lápis para desenhar. Eram as aulas. Já menina, de vestido e gancho no cabelo ia feliz com o aperto para descobrir novos segredos.

Ainda antes, mais para trás, na creche, na infantil, no infantário, era um drama. Recordo esse choro, lembro bem o desespero, aquele medo. Dias menos felizes por nāo conhecer aquele largar. Era pequena, tāo pequena que nem seria natural esta forma de recordar. Faz parte mas eu nāo sabia como e porque é que tinha de lidar. 
Nāo sabendo ainda o segredo mas na sorte do sucesso, a Amália hoje corre pelo corredor para lá chegar. Gosta de ali estar. Pode ser sorte, pode ser segredo… Mas de manhā, agora, digo sempre: A māe vai-te buscar. Ela sorri e num gesto que sinto agradecido diz-me que sim. 
Partia-me o coraçāo se fosse diferente. Seria impossível se fosse como eu, a chegar triste e inquietante. 
De manhā, antes de ir, acalma-me o coraçāo aquele sorriso e aquela certeza. Olhos felizes de uma idade maior e conhecimento infinito. Tranquiliza-me. Olhos que me dizem - Estou bem, māe. Fico bem, māe.  Ela nāo diz. Essas palavras sāo ainda desconhecidas. Diz no sorriso. É esse o meu entendimento. É essa a certeza.  

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Sobre A Segurança


As férias acabaram. Por graça repito que agora é que tenho de descansar. Passar férias passou a ser mais organizado e mais facilmente caótico. Temos sorte. A sorte da vida. Uma filha que nos enche a alma só de a ver dormir em paz ao final da tarde na sombra calma de um simples chapéu. Uma filha que nos rebenta o coraçāo naquele beijo inesperado sem aviso ou no abraço quente e forte que nenhum de nós implorou ou pediu. Temos sorte. 


Andei com a barriga às voltas. Andei…  
Nāo tenho escrito. O amor continua, nāo acabou, claro. Deixei de escrever porque mais que nunca decidi avaliar a segurança do que postava e escrevia. Desde que saiu a decisāo de um juíz sobre as publicações de fotos e informaçāo nas redes sociais sobre os filhos referente a um caso específico que em nada tem a ver connosco… No entanto, fez-me parar para pensar mais e a fundo. 
Achamos que fazemos tudo, o melhor, o mais possível pelos nossos filhos… Gelei… 
Decidi, e por isso escrevo: nāo voltarei a publicar fotografias da minha pequenina que a coloquem na mais ínfima hipótese em risco. 
Sempre tentei ser equilibrada nas minhas opções. Por norma vou sendo. Gelei quando procurei e encontrei mais informaçāo. O mundo nāo é feito apenas de amor e de almas perfeitas. O mundo pode tornar-se perigoso e, neste caso, nada jamais vale o "tentar para ver". Nāo se brinca com a segurança de um filho. Nāo se brinca com o que possa, mesmo que eventualmente, prejudicar a harmonia e paz de uma família. Hāo-de existir milhares de māes que continuarāo a publicar fotografias dos filhos. Respeito. Apenas decidi que nāo vale mesmo a pena. Vejo agora de frente o risco. E com este nāo se brinca. A segurança banal  e que sempre segui passava por coisas como: nāo dar informaçāo da localizaçāo, nāo colocar fotos dos filhos no banho ou nús, nāo fotografar com fardas da escola ou no bairro de residência, nāo postar fotografias que se possam tornar virais e/ou que se possam virar contra eles como motivo de ridicularizaçāo… Nāo fazer isto, nāo fazer aquilo… Uma lista que me parecia sensata e completa e que segui sempre à risca. Sobre locais só falava depois de já lá ter passado, por exemplo.  Tudo absolutamente controlado e sensato. Percebi… Nāo é suficiente. Nem é justo. 
Um filho está sob a nossa asa. Sob a nossa protecçāo… Mas "os filhos nāo sāo nossos". Sāo pessoas e também eles com os seus próprios direitos.  Enquanto māe, nāo tenho o direito de expôr um filho meu. Sim, postar fotografias é expôr um filho. É mostrá-lo globalmente sem sair de casa. É muitas vezes torná-lo alvo de interesse sem o próprio sequer ter sido consultado. É tornar possível que a sua fotografia corra mundo e vá parar a parte incerta e desconhecida. E esse simples clique em "publicar foto" pode dar origem a inúmeras utilizações erradas. Desde a fotografia ser aproveitada para publicidade indevidamente ou até em casos bem piores ser manipulada e incluída em sites com conteúdo duvidoso, ou mesmo ainda ir parar a perfis falsos como sendo filho/a de outros pais. 
Posto isto, decidi que nada mesmo nada, em momento algum, vale a publicaçāo da foto de um filho em que o mesmo seja identificável.  
Obrigada pelo vosso carinho e por toda a partilha que aqui tem ocorrido. Essa partilha pode continuar a existir. Será apenas diferente. De hoje em diante, diferente. 
Mas continuarei por aqui.
O mais importante sāo mesmo os nossos filhos. <3