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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Uma Filha Crescida


Começa tudo a parecer distante. 
Os recém-nascidos parecem mais pequenos. A memória já falha de tantas recordações. Os bebés, assim sāo, enquanto não andam. Sou mãe de uma filha crescida. 
Filha comunicativa. Pequena na sua estatura, elegante no seu estar doce e delicado mas grande no seu entendimento. Percebe, sabe e explica muito. O que quer. O que não quer. O que gosta. O que desgosta. 

Era isto que se dizia por aí… Agora sei… 
'Aproveita. Passa num instante.' 'Não reclames que depois vais ter saudades.' 
... Era.  Agora sei. 
Esperei pela comunicaçāo. Esperei pelo entendimento, pelo andar… Esperei.

Hoje passeia pela casa, faz visitas guiadas à casa de banho. Apresenta-nos dignamente o bidé e a sua  torneira amiga quase com nome de pessoa.  O "nham nham"e a papa ficam envergonhados ao dedo que ela aponta nas badaladas da fome. Ri gargalhadas das tontarias do pai e das palermices da mãe. Decide lavar as mãos, organiza livros e lê nas prateleiras. Escolhe brinquedos. Diz que 'já está'. Envergonha-se atrás das pernas da mãe e esconde-se no ombro do pai. Brinca com o gato da amiga Cátia, brinca e esquece que nāo é boneco. Espeta-lhe os dedos nos olhos, vezes sem conta porque ele até deixa, nāo se importa de ficar com menos pêlo a cada festa amigável dos seus dedos cerrados e atrapalhados. Testa a resistência dos bichitos e dos brinquedos. Dança por mim, por ela, por todos e mais alguns. Põe tudo a dançar. Ou dança com tudo o que imaginar. Assusta-se pelos sons que nāo se explicam, que nāo se apresentam ou que nāo dizem onde ficam. Chateia-se nos parques infantis com o balançar sempre igual. Pensa. Pensa mais. Observa muito. Faz perguntas com as mãos e responde com os ombros. 'Onde está?' 'Não está.'. Joga com sabedoria entre o sim e o não. Responde, perguntando. 
E nós, claro, vamos amando, vamos vivendo e estando. 
Já lá vāo dezassete meses. 

Fotografia de Cátia Von Monteiro

Fotografia de Cátia Von Monteiro