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sábado, 30 de agosto de 2014

Poucas Palavras


Hoje apetecem pouco as palavras. Na minha frente, nos meus olhos, a cada dia o início e a cada dia o fim. 
A vida brindou-me com a felicidade do nascimento mas bateu-me à porta a tristeza da eminente despedida. 
Chama-se Fernanda, a minha vóvó Fernanda. A doença e a dor têm levado a melhor. 

Hoje, no quarto, as duas camas feitas. No canto o cadeirāo, uma cadeira de rodas e um vulto de amor em dor. Entre lágrimas dizia: 
"Tive azar no fim da vida. A culpa foi daquela queda... Sem me mexer deixei de conseguir fazer tudo por ela"  
E chorava.  Também ele se prepara para a despedida. 
"Achas que ela volta?" 
Nāo sei. Nāo sei. É difícil. Que mais lhe diria?
  
O relógio quase às cinco horas. 
Agora no hospital: as batas, o desinfectante, as regras. 
"Hoje pode entrar. Mas nāo saia sem passar o desinfectante. Fique o tempo que quiser" 

Nāo é verdade. Esse tal "tempo que eu quiser" nāo existe. Está a acabar. 
Sei pouco desta vida mas sei que a minha avó nada perto deste fim merecia.







domingo, 24 de agosto de 2014

O Regresso A Casa





Tudo acaba. Também as férias. 
Foram as primeiras. Verāo 2014. Cinco meses e meio. 
À sombra na tenda de praia. Sem pé na areia. Sem pé na água. 
Ao colo a ver o mar. A conhecer o mar. Foi bom.
Passeios. Diversāo. Muita companhia. 
Do Alentejo ao Algarve. Desde amigos a família. 
Da calma à agitaçāo. Do sono à diversāo.
Acabou por agora.

Foi o regresso a casa.

Sabe bem voltar. Descansar na nossa cama. 
Devolver-te ao conforto do ambiente que conheces. As férias deixam saudades pela agitaçāo, pela companhia, pelas novidades, pela azáfama. 
Agora vamos descansar das férias. 

Parece tonto mas os sonos agitaram-se, alteraram-se. É a euforia da novidade constante. O mundo para conhecer.
Nāo falas mas comunicas. O teu sorriso de hoje quando acordaste no teu berço, no teu quarto, disse-nos que é bom regressar a casa. 

Já dás pelo teu nome. Já conheces a tua casa. 
Quando ontem te mudei a fralda assim que regressámos fiquei boquiaberta. 
Cresceste. Cresceste tanto. 
Os teus pézitos já ficam de fora do muda fraldas. 
Quando fomos ainda nem rebolavas.
Hoje rebolas e voltas a rebolar. Viras-te para todo o lado que queiras.
Umas semanas nesta idade e a diferença é abismal. 

O que nunca muda é a tua simpatia. A tua paciência. Os teus sorrisos. 
A vida é uma festa. Fico feliz só de partilhar esta festa constante contigo. 
Seja aqui ou lá. Onde for. Onde fores. 
A festa é tua. É nossa. 
Tua. Do pai. Minha. Dos avós. De quem connosco a partilha.
Tem sido assim.
A nossa vida. 
Uma festa.  



terça-feira, 12 de agosto de 2014

Apresentar-te O Mar



A primeira vez que vi a imensidāo de água que se desenlaça na areia... Nāo tenho memória. 
Pena. Algumas fotografias com um pacote de bolacha Maria na māo e os olhos semicerrados pela luz do sol sāo tardias para documentar essa experiência. 
Outros tempos. 

Estas sāo as fotos que ficam agora guardadas para mostrar à Amália como foi o seu primeiro momento na praia. 
Estes tempos. Os teus. Os nossos.

Fins de tarde depois das 17:00. Factor 50. Uma tenda com protecçāo UV que mais parece um AP com vista de um milhāo de euros. E ainda a sombra do Péu que refresca a temperatura da tenda. 
Dois sacos, uma tenda e um péu depois: e ainda as pranchas de surf... e mais que tudo uma pequenita cheia de vida... E estamos na praia. 
Em segurança, como a pediatra mil vezes avisou. Sem disparates, sem exageros. E sim... por enquanto com uma cor que reflecte e fere os olhos... 
Sem pé pequenito na areia mas com direito a passeios curtos ao colo junto ao mar e de chapéu no "cucuruto".  
Uma experiência nova. Um mundo diferente. Melhor.
Longe dos desfiles de bronze no areal. Longe das barrigas encolhidas com óleo. Longe de mergulhos com mortais encarpados para a água. Longe das marés vivas. 
Perto do sol. Perto da luz. Perto da frescura. Perto da pureza. Perto do imaculado. 
Perto de ti. 
Daqui a um ano castelos na areia. Sereias. Pontes e viadutos.  
Água a entrar. Bolinhos e baldes. Pás e ancinhos. De resto, voltam os sacos, a tenda, o péu e as pranchas. Temos tudo. 
Sempre.

O meu primeiro fato de banho



O meu Péu rosa com bolinhas brancas

A minha tenda AP, t3 vista mar


O meu primeiro passeio junto ao mar




sexta-feira, 8 de agosto de 2014

5 Meses


Ao dia 07 de Agosto 2014 - 5 meses. 

Tudo o que havia de mais difícil passou. Fica o que é para sempre. O que valerá sempre a pena lembrar. Para trás as cólicas que nos violentaram os dias e as noites. Que me revoltaram com a tua dor, a tua agonia. Que me fizeram desesperar, falar sozinha, irritar com o mundo. Para trás. Esquecido. Bem como os medos de uma vida de pânico sem me organizar. Para trás. Passou. Lá  ficou.  Longe também ficaram os tabus que as māes escondem, nāo dizem... O quāo difícil é, o quanto assusta, o quanto custa... Nunca escondi. Mas para trás. Lá ficou. Passou. Valeu tudo. Vale tudo.

Rotina instalada. Vida organizada. Prova superada. Agora: viver. 
A nossa vida. Juntas.
Toma. A minha é tua. Ofereço-ta. Ficas com o que quiseres de mim. Uma parte. Todas as partes. É assim. Ser māe é ser com os filhos todas as partes. Inteira.

És agora a calma que eternamente me faltou. 
O sorriso desconcertante que arrebata corações... 
Da mercearia ao café, do banco ao talho, da portagem à oficina, do restaurante à gelataria, de casa ao infinito. 
Distribuis os sorrisos que a tua māe tantas vezes guardou. 
Passo a passo. Um a um. 
Falas mais que oradores. 
Tens mais sentido que orientadores. 
Comunicas mais que muitos comunicadores. 
Observas mais que o mais atento dos observadores. 

Agora vamos conhecendo que mais o mundo te reservou. 











quarta-feira, 6 de agosto de 2014

As Gémeas Da Ana



Cruzei-me algumas vezes, várias, com o seu fabuloso sentido de humor na casa de uma amiga comum. Foi sempre uma lufada de ar fresco. Uma diversāo. 
Nāo éramos amigas. Entre nós amigos em comum. 
Naquela casa sempre cheia de gente, as gargalhas de grupo, as inofensivas e saudáveis jantaradas à volta da mesa e histórias atrás de histórias. 
Daí ficou-me um retrato muito genérico daquela que será certamente muito mais que apenas a elegante, simpática e divertidíssima Ana Marques.  
Hoje é sobre ela que escrevo. Bom... Sobre ela, nāo. Pois nāo saberia o que escrever para além de uma lista de elogios. Hoje é sobre o seu livro que escrevo, "As Minhas Gémeas":

Livro que devorei em dois dias. E só por isso me atrevo a fazer este post. 

Num país de literatura, onde todo e qualquer livro é submetido a críticas ferozes como se apenas as grandiosas obras fossem dignas de publicaçāo, atrevo-me a dizer neste caso: que se lixem os intelectuais. Que se lixem todos aqueles que na praia iriam gostar de tapar todas as capas menos literárias. 
Eu nāo li este livro... Eu devorei este livro. Senti-o em todas as respirações, em todos os pontos, em todas as vírgulas. 
Todo ele é verdade, honestidade, sentimento, sentido e... é puro. Perfeito cristal. Repleto de amor, ironia, tristeza, ansiedade, medo, receio... Mas cheio de coragem. Coragem nāo só pela vivência passada, mas... coragem por depois de tudo ainda partilhar connosco de forma tāo crua, tāo completa, tāo cheia, tāo real, honesta, verdadeira, inteira e mil coisas mais, aquela que foi uma viagem turbulenta e acidentada até chegar ao seu destino.
   
Desfez-me em pedaços. Fez-me chorar, rir, gargalhar. 
Tudo.  E às vezes tudo na mesma frase. 
Identifiquei-me em tanto e em tāo pouco. Porque esta foi a perigosa história que nāo me aconteceu. Porque esta é a perigosa história que comigo nāo se desenvolveu. Porque felizmente a minha simples história foi apenas uma pequena vírgula comparada a estas duzentas e poucas páginas. A minha história começou e acabou na medicaçāo diária ao longo do segundo e terceiro trimestre para prevenir a terrível doença. E  limitou-se ao controlo diário da minha tensāo arterial. Ponto final.
Ou seja, destas duzentas e poucas páginas conheço na pele pouco mais  que sintomas, o alarme, o pânico, o aconselhamento médico, a ansiedade, o medo... Uma mera vírgula aos olhos do que esta māe/mulher/filha passou. E partilho ainda a mítica personagem do Dr. Álvaro Cohen. Uma vez entrando na nossa sala... magia acontece. A calma invade-nos como se no mais vulnerável perigo ele fosse O salvador.

Ler este livro tocou-me de tal forma que acho que escrevo para dizer isso e apenas isso. Agradecer acima de tudo à própria Ana Marques por nāo ter guardado a sua experiência a sete chaves porque é sublime mergulhar nestas páginas e nāo querer sequer fechar o livro para dormir. 

Nāo é livro para se ler durante uma gravidez. Isso nāo. Mas depois de se ser māe, depois de se voltar para casa, depois de regressar ao mundo e sobre ele ter uma visāo gigantemente diferente... Sim... Depois de tudo isso é tempo de ler e com ele chorar e rir. 
Como me disseram no outro dia em tom de graçola... : 'Nāo te preocupes, o livro acaba bem, ela sobreviveu."
É mesmo isso... bendita seja a sua sobrevivência. Dela. Delas. 
Bendito seja o "palácio amarelo" e todos os que ali salvam e ajudam vidas. 

É por esta e por muitas outras histórias que a MAC deve/tem de continuar a existir.