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sábado, 28 de junho de 2014

Dias Assim



Há dias assim... Dias em que o mundo nos cai em cima.
Porque sim. Porque assim parece que tentou.
Tinha tudo para ser um dia normal. Não foi. 

Começou mal e teimou em seguir pior. 

Indigna-me a maldade das pessoas. Indigna-me.
No entanto com ela hoje lido melhor.
Espanta-me ainda. Mas com ela lido bem.
Nāo a levo comigo para lado algum. Nenhum.
Menos ainda a deixo entrar aqui.
A maldade, claro. A maldade.

Das mais bonitas coisas que aprendi: deixar ir.

Deixar ir é ser-se grande, enorme, melhor.
Deixar ir é melhor que guardar.
Deixar ir é, por vezes, nem sequer deixar entrar.
Deixar ir é nāo deixar ficar.
Como aquele murro que na montanha nada desfaz, para além do bruto punho fechado.
A māo que embate. O punho que bate. Que se desfaz e racha.
Rachou. A māo.
Fica a montanha. A minha.
Ficou. Intacta.
Dali nem outro punho virá.
De ferido. Rachado. Debilitado.

No meio do tonto inútil punho que se fechou...

Valeu-me o som da gargalhada.
A alegria do teu riso gargalhado quase dobrado.
Pela primeira vez... A tua gargalhada.

Hoje, ali de frente para o mal que alguém me quis...
E lá no alto, nos meus braços erguida...
Rias. Para mim.
Rias, para mim.   

Amália, é pouco o que há para se ensinar...
Mas há muito para se aprender.
E hoje...

A quem mal quer, nada a oferecer.
A quem mal diz, nada fará feliz.




terça-feira, 24 de junho de 2014

94 Anos


Hoje faz 94 anos a minha querida avó. Tenho sorte. Fui neta de 3 avós. Sim... 3. Uma história linda que agora nāo vou contar. Duas continuam a partilhar connosco os dias, a vida. 

Hoje faz 94 anos a minha querida avó. A vovó Fernanda foi sempre como o doce mais açucarado e mais belo da pastelaria. Um doce. A alegria. A simpatia. Uma beleza. 
O seu rosto iluminava-se sempre que me via pela porta. 
Mesmo doente, ainda hoje tenho a sorte de merecer o seu sorriso rasgado cada vez que apareço. 
Na porta. Pela porta. O sorriso.
Apareço pouco, menos do que gostaria. Sempre que possível. 
A vida baralha-nos o tempo. É difícil. A doença troca-nos as voltas e magoa. 
Somos uma família com sorte. Têm sido 94 anos de beleza. 
A dor tem começado a crescer como crescer tem custado a doer. 
É a doença. Levou-lhe a memória. Levou a minha vovó Fernanda como me lembro. Há anos. 
Faço de tudo para que a sua ausência de memória nāo faça esquecer a minha. 
Guardo-a como a conheço: um doce... O melhor da pastelaria. 

Os seus cabelos brancos lembram sempre as histórias de ir dormir, os vestidos cosidos à māo e os  bordados tāo perfeitamente trabalhados. É maravilhosa a minha avó. 

Hoje, longe da memória de outros tempos agarra ainda assim na māo da minha filha como se fosse a minha. Sim, como se fosse a minha. A māo.
Olha-a nos olhos, tenta segurá-la todo o tempo. Ama-a instintivamente ao colo. 
Diz-lhe: Ana Rita, Ana Rita. 
-Avó... Minha avó... É  a minha filha, chama-se Amália. 
Os segundos passam e diz: Catarina, Catarina... 
Repete sucessivamente o nome das suas netas. 
Eu repito: Avó, a minha avó...
Levaram parte da minha avó...
Tāo distante e tāo perto. 
O amor e a ternura com que olha a Amália fazem valer a vida que tantas vezes já nāo tem. 
Pode baralhar, confundir, nāo lembrar... Mas será sempre a mais-perfeita-avó. 

Amália... Gostava tanto que um dia recordasses como eu a tua bisavó.
A minha querida avó que a memória levou. 
Mais que os parabéns, avó, quero muito dizer-te que o amor ficou. A memória assim decidiu e deixou. 


quinta-feira, 19 de junho de 2014

Amamentar


E um dia deixamos de ter. Assim. Do nada. 
Desde que fiquei doente, com gripe, o meu leite reduziu drasticamente. 
Achei que recuperaria. Achei que assim seria. 
O início da amamentaçāo foi tāo penoso que disse durante muito tempo que assim que fizesses três meses iria deixar de amamentar. Um crime aos olhos de muitos puristas. Mas absolutamente natural para mais que muitas māes. Agora parece castigo. A verdade é que as dificuldades passaram, ultrapassei-as e tudo mudou. Deixei de querer parar.
Amamentar passou a ser certamente das coisas mais bonitas desta vida. 
Digo hoje. Sei hoje.
Foi de facto difícil. Doloroso. O início. 

Agora parece que passou uma eternidade de tempo sobre o pesadelo que foi o princípio. 
Aprendi todos os truques. Dei por mim dias a fio com luvas cheias com água quente sobre o peito, pomadas para antes, gelo para depois. Todos os produtos para facilitar eu comprei. Até um spray nasal de ocitocina me foi medicado. Dias e dias de dor. De nāo tolerar a água do chuveiro directamente. 
Dor como se vidrinhos me percorressem os vasos. 
Passou. Como tudo passa. Passou. 
Foi-se transformando naturalmente na beleza que caracteriza a maternidade. Torna-se maior que tudo. 
A natureza volta a falar mais alto. Torna-se avassaladora. Nunca mais se olha o mundo animal da mesma forma. Nunca mais se pensa o mundo igual. 

Somos animais. Somos natureza. Somos força e beleza. 

Acabou. Um dia iria acabar. Queria continuar, claro. Típico. Agora queria continuar. 
Pelo menos até aos seis meses. Também calculo que chegando aos seis meses iria provavelmente querer continuar pelo menos até aos nove. E assim sucessivamente. 
Porque se torna assim o amor. Grande. Enorme. E certamente nāo iria saber parar.  

Tenho pena. Agora que acabou.

Ao deixar de amamentar nāo acaba o amor. Nem o amor se mede assim.  

Amamentar é importante. Repetem médicos e a organizaçāo mundial de saúde. 
Repito eu: foi maravilhoso enquanto foi possível. 
O mundo nāo acaba por isso. Nem o teu nem o meu. Foi como teve de ser. 
O leite materno deve mesmo ser o melhor alimento do mundo. Mas ao acabar a vida tem de continuar.

Que continue. Meu amor. Que continue. 
Aos 3 meses e meio apenas o leite acabou. Ficou por aqui. Com pena mas ficou por aqui.
Tudo o resto que está para vir ainda nem começou. 

Ainda nāo começou, meu amor. 
Tudo o resto que está para vir ainda nem começou. 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Perdi. Perdi Metade.



Férias. Ou pelo menos uma pausa. 
Aqui os cães ladram e as caravanas não passam. Hoje foi o teu primeiro dia de calor, aquele calor de verão... Com cheiro a campo e tranquilidade de relva. O som ecoa pelos montes e perdemos a noção das horas. São 21:30... Podiam ser 17:00. As folhas esvoaçam no ar quente... E o som. O som. Quero ficar aqui para sempre. 
Com 3 meses e pouco mais já quase não choras. A rotina é leve como não era. As cólicas são raras desde os dois meses e meio. O teu sono à noite como o nosso, longo e tranquilo. O choro raramente aflitivo. Os sorrisos constantes como o pai. A certeza de que a vida agora existe cada vez maior.
Um senão... Um grande senão... De madrugada entre fotografias do ano passado estarreci... Porquê? Não me apercebi, até hoje, não me apercebi... Tive nos últimos anos cabelos saudáveis ao vento. Muitos... Longos... Soltos... Hoje vi. Perdi metade. Entre gravidez, parto e hoje. Não percebi. 
Perdi. Perdi metade. 

Faz parte, dizem. Não me apercebi.
Até hoje não me apercebi.
Tenho pena. Muita. 
Perdi. Perdi metade. 

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Agarrar


Foi com lágrimas nos olhos que dei por mim ontem a dar o suplemento à Amália antes de dormir.
Estava no silêncio da noite quando as pequenitas māos dela num gesto rápido se agarraram com força ao biberon. 
Fiquei em nostalgia completa. 

Percebi: eles crescem. 

Efectivamente num abrir e fechar de olhos eles deixam de depender tanto de nós. 
É bom, claro. E também custa, claro. 
Agora emociona, depois há-de custar. Primeiro pouco, depois mais, e mais e mais. 
É assim. Criamos, ensinamos, preparamos... Para a liberdade.  
Talvez entenda agora quando me dizem que vou ter tantas saudades dela assim pequenina, indefesa nos meus braços. Na ânsia de a ouvir falar, de a ver andar, de a querer a comunicar... Corria o risco de nāo me aperceber disto.
Vou, vou ter saudades, claro que vou. 
Na ânsia de lhe ver passar rápido as dores... Corria o risco de nāo me aperceber disto.
Vou, vou ter saudades, claro que vou. 

Já tenho mesmo antes do tempo andar. 

Agora. 
Fico no agora. 
Ainda falta muito para tudo o resto. 
Por agora cada dia uma novidade. 
A evoluçāo é abismal. Emocionante. Tocante. 
Agora fico pelo agora. 

  


terça-feira, 3 de junho de 2014

Juro... Juro Que Vejo


As māos agora agarram com força o que nāo pode escapar. Surgem tácticas para compensar as trapalhices próprias dos muito poucos meses. O mimo já é bastante característico, seja para adormecer seja para pedir colo ou "dançar" pelas divisões.  E... Ninguém acredita... Mas... Eu juro... Juro que vejo dois dentes a aparecer na gengiva de baixo. 
Eu sei que nāo é suposto. Pode ser que esteja errada. Pode... Mas entāo será que ando com alucinações??? Ahahahhahaah... Pode ser que esteja errada. Pode... Pode... Pode ser que esteja errada?Pode... 
... É que nem convém nada, honestamente. As cólicas estāo tāo melhores que era mesmo importante deixá-la, e a mim também, descansar das dores por pelo menos uns 4 meses. 
Deviam aparecer apenas depois dos 6 meses... Entāo, por favor, que assim seja... Ninguém merece. Depois de um cenário de cólicas tāo difícil, agora que parece estar a melhorar, vamos esperar que os dentes nāo teimem em aparecer... Vamos... Nāo vamos? Vamos, claro que vamos... 

Mas eu vi... Vejo... 
É que vejo mesmo... 
Oh dente volta para trás... 
É que vejo tanto... 
Estāo lá, pequenitos por baixo da gengiva numa forma irregular e a deixar naquele ponto o rosa da gengiva muito mais claro que o resto da superfície. 
Quase branquinho... Quase transparente...  Quase a forçar...
Nāo, nāo. Nāo pode ser. Pode ser que nāo. 
Mas vejo. Juro. Juro que vejo...

segunda-feira, 2 de junho de 2014

O Primeiro 1 de Junho


Foi com esta flor de papel que fomos recebidos, um bolo e uma decoraçāo particular...
A prima Sofia com cinco amorosos anos tinha-nos preparado uma surpresa.
Quando se perguntava quem eram os bonecos que tinha colocado no bolo, respondia prontamente: 
"- Sou eu e a Amália."

Palavras para quê? O mais bonito no mundo sāo mesmo as crianças. 
A Sofia e os seus 5 anos também encantaram a tarde com cantorias confortantes para qualquer pequena ou maior agitaçāo da Amália. 
Obrigada crescida Sofia por mostrares como se deve aproveitar o tempo, passa tāo rápido... Ainda há pouco te vimos nascer... Obrigada pelo bolo e por todas as canções.
Que todos os cinco anos fossem como os teus. 
O mundo seria tāo mais bonito e feliz. 
E feliz, que feliz... 
Obrigada





domingo, 1 de junho de 2014

O Teu Dia Mundial




Hoje será o teu primeiro dia 1 de Junho. Dizem ser hoje o teu dia mundial... 
Pois para mim o teu dia mundial, universal ou particular é todo e cada dia. Mas claro, alinho nesta comemoraçāo global de hoje em diante. De 2014 até sempre, contigo. Quando digo sempre digo porque ainda serás para mim daqui a 20, 30, 40 ou 100 anos a pequenita Amália.
Quando era eu uma menina gostava, amava e vibrava com os planos em família neste dia. Até que acordei e percebi que já nāo era mais uma menina. E perdi todo o direito a estas comemorações. 
Funciona muito assim a vida. Tudo o que um dia se ganha parece que cedo ou tarde se perde.


Agora crescida contigo gostarei de cumprir todas as comemorações. Sempre. Deixarás certamente de ser criança mas serás sempre a minha maravilhosa filha. Seja num carrossel, num pic nic, num jardim ou num cinema, este dia que passa a ser teu agora nāo deixará de ser mais tarde. 
Sejas tu a pequenita Amália ou a grande e crescida Mel. 
Serve este texto também para te dizer que a māo que te ampara agora as costas, e tantas vezes ainda a tua pequenina cabeça, essa māo é hoje e assim será sempre: o teu amparo. 

Feliz dia, pequenita Amália. Bonita Mel. 
E os teus grandes sorrisos sempre.