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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Hora Do Banho


Com dias ou meses choram desalmadamente na hora do banho. Aquele arrepio, aquele desconforto do desconhecido. O tempo passa, o problema vira outro… 

- Amália, temos de sair do banho!
- Na! Na! Na!
- Amália, meu amor, nāo se pode viver dentro de água. Anda lá!

E nisto, inicia-se todo um processo de adeus, tchau, buy buy. É precisamente nesta altura que eu penso todos os dias o mesmo: ela gosta mesmo de água. Ela gostava de viver dentro de água. 
Encharcada, divertida no seu chap chap com o pa, mais conhecido por pato, diz-me adeus várias vezes e de todas as formas e feitios, na esperança genuína de me ver pelas costas. Na esperança amorosa de simpaticamente me explicar: 
- Māe, nāo é preciso chegar aos 16, esta tarefa já seria muito melhor sem ti aqui…  

Claro que é precisamente na altura em que tenho de pegar nela ao colo para a tirar e embrulhar na toalha. Os próximos minutos sāo sofridos. Os dela e os meus. Ela chora horrores com a sentida separaçāo "infinita" destas 24 horas até ao próximo banho, e eu fico no sufoco do choro dela por ter de a contrariar. Claro.

Ouvi, li e vi birras… Se vi, se li, se sei, se as fiz… 
Quero agora tirar um mestrado para saber como lidar com elas. Sinto que estāo mesmo aí.
Socorro… Por agora é a hora do banho… E amanhā? Ou depois… 
Tenho de me preparar. 



sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Sobre A Segurança


As férias acabaram. Por graça repito que agora é que tenho de descansar. Passar férias passou a ser mais organizado e mais facilmente caótico. Temos sorte. A sorte da vida. Uma filha que nos enche a alma só de a ver dormir em paz ao final da tarde na sombra calma de um simples chapéu. Uma filha que nos rebenta o coraçāo naquele beijo inesperado sem aviso ou no abraço quente e forte que nenhum de nós implorou ou pediu. Temos sorte. 


Andei com a barriga às voltas. Andei…  
Nāo tenho escrito. O amor continua, nāo acabou, claro. Deixei de escrever porque mais que nunca decidi avaliar a segurança do que postava e escrevia. Desde que saiu a decisāo de um juíz sobre as publicações de fotos e informaçāo nas redes sociais sobre os filhos referente a um caso específico que em nada tem a ver connosco… No entanto, fez-me parar para pensar mais e a fundo. 
Achamos que fazemos tudo, o melhor, o mais possível pelos nossos filhos… Gelei… 
Decidi, e por isso escrevo: nāo voltarei a publicar fotografias da minha pequenina que a coloquem na mais ínfima hipótese em risco. 
Sempre tentei ser equilibrada nas minhas opções. Por norma vou sendo. Gelei quando procurei e encontrei mais informaçāo. O mundo nāo é feito apenas de amor e de almas perfeitas. O mundo pode tornar-se perigoso e, neste caso, nada jamais vale o "tentar para ver". Nāo se brinca com a segurança de um filho. Nāo se brinca com o que possa, mesmo que eventualmente, prejudicar a harmonia e paz de uma família. Hāo-de existir milhares de māes que continuarāo a publicar fotografias dos filhos. Respeito. Apenas decidi que nāo vale mesmo a pena. Vejo agora de frente o risco. E com este nāo se brinca. A segurança banal  e que sempre segui passava por coisas como: nāo dar informaçāo da localizaçāo, nāo colocar fotos dos filhos no banho ou nús, nāo fotografar com fardas da escola ou no bairro de residência, nāo postar fotografias que se possam tornar virais e/ou que se possam virar contra eles como motivo de ridicularizaçāo… Nāo fazer isto, nāo fazer aquilo… Uma lista que me parecia sensata e completa e que segui sempre à risca. Sobre locais só falava depois de já lá ter passado, por exemplo.  Tudo absolutamente controlado e sensato. Percebi… Nāo é suficiente. Nem é justo. 
Um filho está sob a nossa asa. Sob a nossa protecçāo… Mas "os filhos nāo sāo nossos". Sāo pessoas e também eles com os seus próprios direitos.  Enquanto māe, nāo tenho o direito de expôr um filho meu. Sim, postar fotografias é expôr um filho. É mostrá-lo globalmente sem sair de casa. É muitas vezes torná-lo alvo de interesse sem o próprio sequer ter sido consultado. É tornar possível que a sua fotografia corra mundo e vá parar a parte incerta e desconhecida. E esse simples clique em "publicar foto" pode dar origem a inúmeras utilizações erradas. Desde a fotografia ser aproveitada para publicidade indevidamente ou até em casos bem piores ser manipulada e incluída em sites com conteúdo duvidoso, ou mesmo ainda ir parar a perfis falsos como sendo filho/a de outros pais. 
Posto isto, decidi que nada mesmo nada, em momento algum, vale a publicaçāo da foto de um filho em que o mesmo seja identificável.  
Obrigada pelo vosso carinho e por toda a partilha que aqui tem ocorrido. Essa partilha pode continuar a existir. Será apenas diferente. De hoje em diante, diferente. 
Mas continuarei por aqui.
O mais importante sāo mesmo os nossos filhos. <3 



sábado, 23 de maio de 2015

Mais Que Apenas O Meu Vestido


Esta é aparentemente apenas a história de um vestido para a gala de amanhā.

Em 20 anos fui quase todos os anos aos globos de ouro. Gala que tantos adoram e outros poucos nem por isso. Eu sou das que gosta. Gosto mesmo, de coraçāo. Podia ser pela comemoraçāo, pelo glamour, por isto ou por aquilo… Gosto porque é das vezes que em Portugal se vê prémios a serem entregues, carreiras a serem exaltadas, profissionais a serem ouvidos pelo seu trabalho, pelo seu talento. As más línguas dizem logo que muitos ficam de fora, que isto que aquilo. Isso acontece inevitavelmente. E entāo? Numa selecçāo há sempre os que ficam de fora. Nem toda a gente está de acordo, sim. É assim. Faz parte. 
Gosto de ver profissionais e colegas premiados pelo seu trabalho. Gosto.  
E se nem sempre concordo com os globos atribuídos… Indiferente. O importante é que se continue a valorizar e a dar ênfase ao que por cá se faz.  
Gostei mesmo quando perdi, mesmo das vezes em que nenhum projecto em que entrei estava nomeado, das vezes em que vi amigos e colegas ganharem, das vezes em que me emocionei com discursos sinceros, das vezes em que me ri com palhaçadas, de brindes que fiz pela noite dentro, de saias rodadas que vi rodar e girar nas danças da madrugada, das histórias que ficaram para sempre, das que ainda vāo ficar, das que ainda estāo por contar, dos prémios e premiados que ainda estāo para vir. Afinal de contas é apenas uma celebraçāo, uma festa. Deixemos de pensar nos indignados que se exaltam por acharem os vestidos superficiais. Os que dizem que os prémios pffff que nem os querem banhados a ouro. Cada um como cada qual. Lembro: é uma festa, uma celebraçāo.  Que mal faz? Que mal pode fazer?    
Os vestidos estāo longe de ser o mais importante da festa mas têm a sua parte. Houve anos em que fui bem, anos em que fui mal, anos em que fui clássica, neutra, outros em que fui teatral, excêntrica, louca ou apenas romântica, consoante o mood, consoante o que me apetecia. Fui sempre eu. E continuarei a ser. No entanto, este ano uma diferença. Um desafio. 
Farta de procurar e nāo encontrar o que queria. Farta de ter de me sujeitar ao que está à venda nas lojas ou ao que é criado por outros… Este ano uma aventura. Decidi fazer o meu próprio vestido. 
Socorro. Fujam para os passeios, escondam-se atrás de portas… cuidado. 
É facto. Faltam 24 horas e estou a acabar o meu vestido. Desenhado, criado e costurado por mim… 
Pois… Hahhahahah. Medo, muito medo. 
Assim será, amanhā. Vestida ou despida consoante o resultado final… 
Lá estarei. Prometo partilhar.  
Eu avisei que isto da costura era para levar a sério. 
Até amanhā. 



quinta-feira, 14 de maio de 2015

Bullying…



Tinha 14 anos. Era miúda. 
Era miúda e apanhei. 
Hoje vou falar sobre isto, nāo ia mas vou.

Miúda, menina, como as outras. Na maioria das vezes. Na maioria das coisas, era. 
Umas vezes metida para dentro, outras vezes com o rei na barriga. Dependia. Como sempre depende. Nāo fosse assim a adolescência. 
Frequentava um dos melhores colégios. Colégio que olhou por mim sempre, com o cuidado e a qualidade que sempre imprime na educaçāo de quem por lá passa. 
Nāo era uma santa mas era boa miúda. Envergonhada mas provocadora. Era tudo isso, e sem ser demasiadamente nada. Com veia de actriz, gostava de chamar alguma atençāo. Mas nāo fazia mal a uma mosca. Era literalmente uma miúda na sua vida a aprender a crescer. A idade ensinava-me isso: a crescer. Nāo me dava com grandes grupos, era amiga da nostalgia e da introspecçāo. Tinha alguns amigos. Os meus. Nāo os dos outros. Os meus. Simples. 
A Sofia, a Daniela, a Catarina, a Tânia, o Paulo, o André… Enfim… Os meus. Nunca lhes vi nenhum acto de violência. Nunca. 
Eram aí umas 20 horas de um qualquer dia de semana. Em casa, o telefone tocava. Daqueles fixos que tinha de se pôr o dedo para girar número a número. Foi sempre este o telefone. Uma "seca" para uma adolescente que gostaria de falar ao telefone lá dentro no quarto. E aquele ali "pregado" à parede na passagem, no corredor. Em linha, uma voz que eu nem conhecia. Nem sabia quem era. Percebi logo que de amiga tinha pouco. Foi directa ao assunto. Disse que tinha umas contas a ajustar comigo. Nāo percebi quem era nem o que achava que eu lhe tinha feito. Disse-me, ameaçando-me, que me ia encontrar quando eu menos esperasse. A única palavra que eu disse foi "Estou" quando atendi o telefone. Desligou. Desliguei. Achei que só podia ser engano. Nem a conhecia. A este telefonema seguiram-se vários. Muitos. As ameaças eram cada vez mais frequentes, todos os dias, e maiores. Tive medo. O medo começou. Ameaças de morte. Deixei de sair do colégio nos intervalos. Tinha cartāo azul, o que permitia que fosse almoçar aqui e ali. Deixei de ir. Tinha medo. Nāo disse a ninguém. Nem sabia quem falava do outro lado. Escondia que tinha medo. Achando-me pequena por ter medo. Adolescência tonta que nos faz achar que ter medo é uma vergonha. O telefone fixo começou a tocar tanto que se tornou impossível esconder que algo se passava. Os meus pais, sempre lá, sempre atentos. Perguntavam e sabiam que algo se passava. Eu nada. Nem explicava. Dizia apenas que eu resolvia para nāo se preocuparem. Um desses dias, o meu pai atendeu. Atravessou-se no meu caminho e atendeu ele. Voz colocada e de poucos amigos: 
- Quem fala? Uma amiga? Quem? Nāo, nāo pode. Ela nāo está. 
Estava, sim. A única coisa que passei a saber foi o nome dela e que nāo, nāo era do colégio. 
Evitei isto, aquilo, e muita coisa… Os meus pais acharam que talvez fosse um arrufo. Nāo era. Nāo era. Nem sabia quem ela era. Evitei muita coisa. Mas ir embora ao fim de um dia de escola nāo podia evitar. Tinha sempre de voltar para casa. 
Eram 16:20. A rua enchia-se de gente depois do toque. Era mais um fim de tarde e tinha de ir para casa. Ir para casa passou a ser um acto de coragem. No meu silêncio. Na minha vida. 
Neste dia, quebrou-se o silêncio. Saí. Atravessei a estrada porque vi que o Rui também tinha saído. O Rui apanhava sempre o mesmo autocarro que eu. O Rui. Gostei sempre do Rui. Meio rebelde, meio envergonhado, calças rasgadas, tinha uma banda, olhos azuis, mal falávamos. Uma tentativa de namoro que tinha corrido mal, nada de especial. Gostava imenso do Rui. Muitos dias esperava o autocarro com ele mas quase sempre sem grandes palavras. No banco muitas vezes uma espera infinita. Nāo tivemos muitas mais palavras para trocar. Sem maldade. Era assim.  Foi assim. Nesta tarde, sem ele sequer perceber, tentei acompanhar o passo do Rui. No receio de ficar para trás sozinha. 
Atravessei a estrada para nāo perder o Rui de vista. Era o medo de ir sozinha. De repente surge um vulto de uma rapariga de 18 anos... Aproximou-se repentinamente furando os grupos em frente aos cafés da rua. 

A partir daí deixei de ver o Rui… As māos dela directas aos meus cabelos. À minha cabeça. A força de um corpo alto, muito maior. Atirada para o chāo, ali fiquei zonza e tonta depois de uma chapada que me colocou o ouvido a apitar. Deixei de ouvir. Deixei de ver. Perdi o rasto da esperança do passo do Rui. Agora via umas Dr Martens vermelhas e apenas a sua biqueira de aço. Uma, duas, três vezes directas ao meu estômago. Caída no chāo. Cigarros apagados na minha cabeça. Uns quantos cabelos queimados. Uma eternidade de tempo. Do fundo da rua correu a Tânia, minha amiga, para agarrar aquela miúda que mais parecia um animal selvagem.
Numa rua cheia de gente… Valeu-me a Tânia. 
Saltou para as costas dela como uma mochila: larga a minha amiga. Foi a Tânia. Obrigada Tânia. Ainda ouvi umas vozes: vāo chamar alguém, chama aí alguém. Foi a Tânia que a agarrou e lhe disse para desaparecer dali. Depois de espantar aquele "bicho" a Tânia levantou-me do chāo. Sacudiu-me. Eu nāo sentia o corpo. Nada. Apenas queria sair dali. O Rui estava em frente da papelaria ao fundo da rua naquele momento, quando o vi. Um alvoroço. Eu só queria sair dali. A Tânia ficou para trás. Eu queria sair dali.   
Foi um caminho diferente até ao autocarro. Horrível. Sabia que nāo podia ficar por ali. Esperei uma eternidade pelo autocarro. Chegou finalmente. O Rui também. Entrei. O Rui entrou. Cansada. Exausta. Envergonhada. Magoada. Nāo consegui mais. Caíam-me todas as lágrimas  que até ali tentei esconder. O Rui, sem dizer nada, aproximou-se de mim. Foi ali ao meu lado em silêncio até eu sair na minha paragem. De cada vez que caía mais uma lágrima ele erguia a māo e limpava-me o rosto. Foi assim. O caminho todo. O autocarro parou. 
Cheguei a casa. Māe, é māe. Ainda no intercomunicador e a minha māe falou em sobressalto:
- O que tens? O que te aconteceu? 

Nāo consegui esconder. Subi. Cheguei. Disse. Contei tudo.

Foi, tenho a certeza, o que me salvou. Contei os dias de inferno para trás também. Como eu, na minha frente dois adultos indignados: Mas como e porquê? 
Eu também nāo sabia sequer porquê. Mas nāo existe jamais qualquer razāo possível que justifique esta selvageria. 
Prontamente o meu pai, agarrou em mim e disse-me: apartir de agora sou eu que trato deste assunto, meu amor. Vens comigo. Temos de te proteger. Fui. Fomos.
De volta ao colégio. O assunto foi tratado como deve ser. Entre adultos.
O meu pai reuniu todas as informações que sabia que precisava para identificar quem tinha feito uma coisa daquelas e tudo para apresentar uma queixa. 
Esta miúda, já mulher maior de idade, tinha de ser informada que tinha cometido um crime e que estava proibida de se aproximar de mim em qualquer circunstância que fosse. E que cada vez que por mim passasse tinha de mudar de passeio para nāo se aproximar. 
Assim foi. Nunca mais se aproximou.

Falei. Foi o que me salvou. O meu pai, obrigada meu valente pai.
Sábio nas palavras. Enorme nas atitudes.
Um coraçāo de ouro, um homem bom, mesmo bom. Exigente e com um feitio forte, justo sempre justo. 
No momento em que os meus pais souberam, senti logo o alívio de quem já nāo está sozinha. 
Estes sāo assuntos de adultos. Nāo sāo brincadeiras de criança. E nāo, nāo se resolve com mais violência. Resolve-se quebrando silêncios com o apoio certo. Resolve-se com ajuda de adultos, adultos com bom senso. Grande pai, o meu. Grande māe, a minha.  <3

Desistimos de fazer queixa quando a realidade daquela família se mostrou um desespero. O meu pai, bom homem como é, explicou apenas que a queixa nāo existia se ela nunca mais se aproximasse de mim.  Assim foi. Nunca mais se cruzou no meu caminho.

Anos mais tarde soube que tudo tinha sido porque a rapariga era, na altura, namorada de um rapaz qualquer do meu colégio. Achou ela que o namorado me achava graça. Eu nāo sei, nunca soube, nem me interessa. Interessa que eu nada tinha feito, muito menos achar graça ao rapaz dela.  

O que interessa é que gostava mesmo era de deixar esta mensagem ao adolescente que tem visto a sua imagem estes últimos dias infinitamente repetida e espalhada por todo o lado: 

- Agora podes achar que o que sentes nāo vai passar. Mas prometo que passará. Sabes porquê? A vergonha nunca devia ter sido tua. Nāo guardes mais essa vergonha contigo porque nāo é tua. Acabou. O teu pesadelo acabou. A vergonha passou a estar nas māos e na vida de quem te atacou. Vergonha, muita vergonha pura e simplesmente para quem te atacou. Sei bem o que sentes. Passará. Passará.

Fotografia de infância tirada por uma amiga na rua do colégio.








segunda-feira, 13 de abril de 2015

O Que Somos e O Que Damos?



Hoje de noite ouvi ao longe o choro de um recém-nascido. Estes serāo os dias difíceis que se calculam para os pais de uma pequenita recém-vizinha. Para quem vive ao lado, em baixo, ou seja onde for, incomoda zero. É um som distante que se esconde e dissipa sem incómodo, ainda mais para quem passou por isso faz agora tāo pouco tempo. Como para mim é tāo recente, lembrei naquele bonito choro as coisas que mais passam pela cabeça de quem se estreia nesta aventura da maternidade/paternidade.

Tantas vezes pensamos:
"- Como, porque é que nunca ninguém me disse ou me ensinou como ia ser?" 
Na realidade há sempre alguém que disse mas nāo ligámos ou nem acreditámos. 
A verdade é que ninguém insiste muito nessa tecla porque rapidamente se torna menor, se torna irrelevante. Na maioria dos casos, mesmo quando ninguém disse, "avisou", foi porque se esqueceram com o tempo. Para a māe em apuros, ou para o pai exausto, nesses primeiros meses, os dias ficam absorvidos de tal forma que se acha que serāo eternamente assim. Imagina-se uma espécie de 24horas non stop até se morrer.  Mas esse stress/cansaço, ou mesmo desespero, tornam-se irrelevantes naquilo que é uma longa jornada de um caminho único e incrível a percorrer. 

"- Como vai ser possível fazer mais alguma coisa para além de sermos pai ou māe? Como vai ser possível voltar a encaixar o eu e o nós?" 
Simplesmente vai. Mais cedo ou mais tarde, vai. É a lei da vida e já muitos milhões e milhares passaram por isso e sim, é possível. Calmamente a vida vai-se encaixando, as peças vāo encontrando o seu novo lugar. Nalguns casos poderá ser mais demorado que noutros, mas vai. 
Tudo se volta a ordenar. A encaixar. Com a mesma naturalidade com que se desordenou.     



"- Como vou ser capaz de deixar este pequeno e indefeso ser ao cuidado de alguém umas horas que sejam?" 
A necessidade de o fazer pode ser bem mais rápida do que o que se prevê. Cedo ou tarde vai ter de acontecer. E nāo há māe normal que o faça sem sentimento de culpa. Maior ou menor, mas sempre lá. Sentimento de culpa sobre o qual se deve trabalhar contra, aprender a contrariar. A deitar para trás das costas. "Os filhos nāo sāo nossos" como se diz por aí. Nāo sāo, no sentido em que nāo nos pertencem como propriedade. A nossa missāo é amparar-lhes o caminho, mostrar e ensinar o mundo. Mas nāo é apenas a nossa missāo. Há mais responsáveis por isso no nosso mundo. A começar pelos avós, pelos tios, pelos primos. Pela família. Pela escola. Um filho é tāo mais feliz lidando com o equilíbrio entre tudo isso. O balanço certo. Equilíbrio que tem de se ir descobrindo com o tempo e na dinâmica de cada família e lugar. Demora tempo, traz questões, dúvidas, ansiedades, sim. Mas encontra o seu encaixe certo inevitavelmente. 

"- Serei capaz de ser māe e trabalhar? Serei? Como?"
Esta é provavelmente a mais recorrente das questões. A resposta certa é: sim, claro. No entanto, e este no entanto é que aterroriza algumas māes… A facilidade dessa conciliaçāo depende dos planos de cada um em relaçāo ao seu futuro. Ser māe é absolutamente compatível com ser uma boa profissional. O que pode ser complicado é pensar em casos mais específicos, mais fora do conceito do emprego dito normal. Por exemplo, nos casos que envolvam viagens, outros países, distância. Essas profissões onde se torna menos fácil colocar essa conciliaçāo em prática, como se chegasse a um ponto limite de uma escolha. É menos fácil, é. Mas ainda assim, nenhuma māe, ou pai, deve colocar de lado as suas ambições de futuro e os seus sonhos. Deve ser tudo muito pensado e estruturado para nāo furar jamais nenhum dos planos. Ser menos fácil é apenas isso. Menos fácil. Nāo significa que seja impossível. Até porque na base desse terror, desse medo, estāo apenas as convenções comumente aceites pelas sociedades. Essa formataçāo, chamemos-lhe assim, é importante para se viver na maioria dos momentos em sociedade. Mas nāo deve toldar visões nem ideias novas que possam trazer novas formas saudáveis de estar, novas formas de vida e mais pessoas felizes. Nesta vida tudo é relativo. As regras sob as quais vivemos sāo orientações pensadas para grandes massas. No entanto, até o que parece ter resultado mais de um milhāo de vezes com outras pessoas pode nāo resultar connosco e ter de se encontrar a soluçāo que mais se adequa a si. A sua soluçāo. Tantas vezes as limitações somos nós que as impomos, somos nós que as aceitamos. Entregando-nos a raciocínios derrotados. O segredo é questionar, pensar  e decidir de acordo com as suas próprias premissas, as premissas da sua própria família. 
O resto, é apenas o que costuma acontecer. Nāo significa que seja o certo. 

"- Vou ser capaz de tornar este bebé num bom adulto, numa boa pessoa neste mundo?"
Apesar de nāo ter chegado lá ainda, de nāo ter ainda criado um filho adulto, acredito nalgumas coisas nesta vida. Se há coisa em que acredito é que as acções sāo provocadoras de reacções. Uma boa educaçāo leva a bons resultados. Claro que há  mais condicionantes que se podem colocar no caminho. Nada é tāo linear assim. Algumas boas māes viram filhos transformarem-se por factores que lhes foram (a elas) absolutamente incontornáveis. Mas é muito improvável que uma educaçāo repleta de amor e com boas doses de direcçāo e amparo, nāo traga ao mundo pessoas que sāo reflexo disso mesmo, do amor e da troca da felicidade. 


A melhor forma de ter um filho feliz é ser feliz. Para ter um bom filho, é um bom começo ser-se um bom pai, uma boa māe. Para criar um bom cidadāo, é um bom começo ser-se um. 
O que somos e o que damos, fará deles também o seu futuro.  
 A maternidade é a mais bela das coisas da vida.   

sábado, 7 de março de 2015

Um Ano



Há um ano nascias.
A vida deixou de ser como era para passar a ser melhor ainda. 
Que hoje seja a primeira celebração e que se sigam infinitas. 

Parabéns, minha pequenina.

A meio da noite a vida crescia. A barriga apertava e eu māe iniciava-me onde desconhecia.
A ansiedade palpitava nessa noite calma, nessa noite nova de um enorme amor que nascia.
Nove meses de te querer. Anos de sonho sobre quando te receber.
Foi esta a hora perfeita para te ter.

És tu o maior amor da nossa vida.






segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Foi Dia Que Ainda Hoje Nāo Acabou


Parte-me a alma o seu olhar cansado. 


Em jeito de mimo parece que segreda como é valente e feliz. 
Estamos doentes. Vamos começar por aí.
Quer dizer… Passou sexta, sábado, domingo e hoje... E aquela quinta-feira ainda nāo acabou. 
Quero que seja breve, mais breve por favor. 
Parte-me a alma o seu olhar derrotado. 
Ainda assim, o seu sorriso... Embora farto, meio cansado, parte saturado.
É que já foi quinta mas ainda hoje nāo acabou.

O próximo passo: reconquistar o "poder fazer" e a vontade de comer.
Enfim, ninguém quer nos seus planos ver um filho adoecer.
Depois também ficaram doentes os avós. Agora nós.
Ainda assim de movimento lento e semi-empenado:
Onde está o nariz? Onde está o nariz?
Está ali. Está aqui. Está aqui. Plim.




sábado, 24 de janeiro de 2015

Como Um Balāo No Ar "I Can Go The Distance"


Mal falava. Pirralha. Nariz a tocar o céu estrelado. Olhar atento. Silêncio falado. Com e sem a mania.
Fixada na caixinha mágica, nos sonhos:
- Māe, um dia hei-de ser ali.
Admirada - "vai-lhe passar".

Nāo passou.

Tentava preparar-me para a vida.
A minha māe.
Fazia de tudo para me suavizar as quedas.

Há quem prepare os filhos para o sucesso.
Há quem prepare os filhos para o insucesso.
Sāo diversas as maneiras de amar.

Importante, mesmo importante é continuar a incentivar.
Mal nāo faz, saber de ante-māo que nem sempre a vida é o que se quer.
Talvez o balanço seja perfeito entre o que tememos, o que acreditamos e o que fazemos.

Nāo deixando jamais de ser a minha base. Era o meu lugar constante e seguro.
O elo certo que me unia os pés à terra.
A este planeta. A este planeta terra.
Nāo fosse eu ser ainda capaz de inventar um outro. Um outro planeta.

Eu vi sempre o céu.
Fossem as estrelas. O sol ou a lua.
Sempre.

Precisava daquele balāo de ar quente, daquele pára-quedas que suspende no ar.
Assim foi. A minha māe.
Todas as vezes lá para nāo me desmontar sozinha a aterrar.

Houve vezes, sim, em que me parti, em que me desmontei, na aterragem.
Mesmo com pára-quedas, esta terra é dura.
Regra incurável… Encaixei sempre os pedaços.
Acompanhada ou menos… Sempre…

Pedaço a pedaço… Peça a peça. Passo a passo.
"Be water my friend" passou a ser o lema.

Aos 30, lá fui. Menina de cinco, mala numa māo e sonhos na outra. Fui.
Atirei tudo ao ar.
E lá estava a māo da minha māe. A ver-me partir, olhos fortes, coraçāo desfeito e orgulho no peito.
Insistia… 'Vai porque deves ir mas lembra-te… nāo serāo sempre rosas".
E em jeito de história da Disney, eu sabia: I Can Go The Distance. Fui.



Depois de se embarcar neste sonho. Depois de se ir já nāo se volta.
Mesmo cá, jamais se volta.
"I don't care how far, I can go the distance."
É sempre apenas um bilhete de ida mesmo quando inclui regresso.
Muda-se eternamente. Vive-se ainda mais intensamente.

Passei a tolerar mais o que sempre devia ter tolerado.
Deixei de tolerar o que nunca antes devia ter tolerado.
Sou diferente. A mesma. Diferente. Nāo outra mas diferente.

A māo da minha māe, sempre a mesma.
No mesmo aeroporto em que parti. No mesmo aeroporto quando cheguei.
Ali. Sempre ali, a minha māe.

Preparar os filhos para os sonhos.  Era por isso que escrevia.
Orientar para os seus maiores e mais altos vôos.
Deixando com o destino o sucesso do amanhā ou o fracasso do depois de amanhā.

E quando digo preparar digo preparar...
Nāo é à toa que o Michael Bolton está a esforçar-se a cantar.
Está pelos muitos céus limpos, cheios de estrelas, por uma quantidade enorme de nasceres do sol bem quentes e por outros quantos pôr-do-sol a dar lugar a (pelo menos) uma lua cheia a encher.

Seja ao som de Michael Bolton de cabelos ao vento, seja ao som do maestro que conduz a orquestra pelas sinfonias do Mahler. Seja qual for a banda sonora:

Regra número um: tem de tocar bem alto
Regra número dois: tem de tocar bem fundo
Regra número três: tem de tocar e voltar a tocar

Como um balāo que se entrega ao vento e que suavemente há-de voar.
Por ti, voa minha filha, voa.




quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

10 Meses


Para ti, todos os poemas todos os dias. 
Hoje: 10 meses. 
O tempo não passa porque não se trata de passar. Acrescenta. O tempo acrescenta, acrescenta-se e acrescenta-nos.



terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Os Elevadores, A Vida, A Perfeita (im)Perfeiçāo


Fico doida. Maluca. Nem sei por onde começar… Sāo os elevadores. 
Os elevadores tiram-me do sério. 
Somos māes, certo? Andamos com um carrinho de bebé para todo o lado. A todas as horas e quase em todos os lugares…
Como dizer? Sāo o raio dos elevadores, as casas de banho públicas, os sacos das compras e as malditas escadas. Caramba. Eu explico. Estou enervada. Irritada. Apre. Desculpem mas estou… 

Sāo alguns destes detalhes do dia-a-dia que irritam e tornam a vida imperfeita. Sim. Imperfeita. Nāo me queixo da minha ultimamente. Nada. Quer dizer nestas linhas hoje até me queixo, mas só um bocadinho.

É a falta de educaçāo de algumas pessoas. Muitas mesmo. É inacreditável. Em placas bem visíveis nos elevadores públicos está escrito (e "desenhado" para quem nāo sabe ler) para se dar prioridade a grávidas, idosos, deficientes e pessoas com carrinhos de bebé. 
E faz sentido. Todo o sentido. Pois estas pessoas nāo podem ir pelas escadas com facilidade, nem com segurança. Pois nāo têm grande opçāo. Mas pois que sāo precisamente estas pessoas que ficam eternamente penduradas em frente a portas a abrirem e a fecharem sem que ninguém de lá de dentro se mova para dar prioridade, a devida prioridade. Pior… Até por vezes há quem se apresse a correr e passe por cima destas pessoas para apanhar o seu elevadorzinho num abrir e fechar de olhos. Vale tudo. 

Isto pode durar uma eternidade. Ver entrar e sair pessoas. Porque espaço nāo existe. Nem ninguém se dá ao trabalho de o criar. Mais vale cruzar os braços e rir. É que (para quem nāo perceba a urgência, muito facilmente entendida para qualquer um dos outros caso, sejam eles idosos, grávidas ou deficientes) para além de nāo ser possível irem pelas escadas muitas māes também têm pressa pois têm de dar de mamar/alimentar e mudar fraldas com uma frequência que, pelos vistos, escapa ao conhecimento do mais comum mortal. Ou seja, nāo têm a vida toda para estar em frente a um elevador muito calmamente quanto mais nāo seja porque se massacra os bebés dentro dos carrinhos ao fim de muito pouco tempo. Daí também a prioridade ser para todas estas categorias, pois cada caso à sua maneira precisa efectivamente muito de utilizar os elevadores e com rapidez e eficácia. 
Só posso concluir que todas estas pessoas - dotadas de duas perninhas andantes, cheias de juventude, mobilidade, saúde e perfume - ainda nāo foram pais e/ou nāo foram de todo educados. 

Mas bom, mesmo bom, melhor que tudo... sāo as casas de banho públicas de algumas grandes superfícies. 
É impressionante verificar que há quem projecte, em pleno século XXI, casas de banho sem pensar que se uma māe está sozinha com o seu bebé e calha a ter de ir à casa de banho…  Só tem duas hipóteses: ou faz pelas pernas abaixo ou arrisca-se a ficar sem filho. Porquê? Porque sāo inúmeras as casas de banho onde nāo há espaço para entrar com o carrinho. Ah, claro, também podem achar que seria natural fazer de porta aberta. Pois talvez. Eu nāo acho natural. Nem aceitável. Mas claro que numa cidade onde dificilmente se passa com um carrinho de bebé no passeio nāo se pode exigir muito mais. 

Enfim… Nem quero imaginar o que será andar de cadeira de rodas nesta terra. A minha solidariedade para todas as pessoas com mobilidade reduzida. Nem consigo imaginar.

Foram apenas exemplos… A lista fica bem incompleta mas nāo vou lamentar mais. Por hoje já chega. 
Desculpem. 




quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Até Sempre 2014

Foste um ano único.
Com dias bons e dias piores. Com dias maus e dias melhores. Com momentos menos felizes e vivências brutalmente alegres. Foste como um ano deve ser: diverso, incrível, sentido e memorável. Ficas para sempre gravado no meu coraçāo e na documentaçāo da minha filha. 2014, o número para levar comigo onde quer que eu vá. Nasceu a Amália. 
Obrigada mundo. Obrigada meu Amor. Obrigada natureza. Obrigada a todos os que me lêem. 
Feliz Ano Novo. A nós, a quem gosta de nós, a quem gostou, a quem partiu, a quem ficou, a quem está, a quem vier, a quem quiser… A todos. Feliz 2015. 

2014 foi assim:

JANEIRO
                  
               


FEVEREIRO

   


MARÇO

             


O último passeio a 2… +1 antes do nascimento da Amália:



ABRIL


                            

MAIO



                         

JUNHO



             


JULHO

                       




AGOSTO

                       
                         
                          


                        



SETEMBRO



OUTUBRO


                      

                       



NOVEMBRO



DEZEMBRO



                                     

FELIZ ANO NOVO
Até sempre 2014