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segunda-feira, 13 de abril de 2015

O Que Somos e O Que Damos?



Hoje de noite ouvi ao longe o choro de um recém-nascido. Estes serāo os dias difíceis que se calculam para os pais de uma pequenita recém-vizinha. Para quem vive ao lado, em baixo, ou seja onde for, incomoda zero. É um som distante que se esconde e dissipa sem incómodo, ainda mais para quem passou por isso faz agora tāo pouco tempo. Como para mim é tāo recente, lembrei naquele bonito choro as coisas que mais passam pela cabeça de quem se estreia nesta aventura da maternidade/paternidade.

Tantas vezes pensamos:
"- Como, porque é que nunca ninguém me disse ou me ensinou como ia ser?" 
Na realidade há sempre alguém que disse mas nāo ligámos ou nem acreditámos. 
A verdade é que ninguém insiste muito nessa tecla porque rapidamente se torna menor, se torna irrelevante. Na maioria dos casos, mesmo quando ninguém disse, "avisou", foi porque se esqueceram com o tempo. Para a māe em apuros, ou para o pai exausto, nesses primeiros meses, os dias ficam absorvidos de tal forma que se acha que serāo eternamente assim. Imagina-se uma espécie de 24horas non stop até se morrer.  Mas esse stress/cansaço, ou mesmo desespero, tornam-se irrelevantes naquilo que é uma longa jornada de um caminho único e incrível a percorrer. 

"- Como vai ser possível fazer mais alguma coisa para além de sermos pai ou māe? Como vai ser possível voltar a encaixar o eu e o nós?" 
Simplesmente vai. Mais cedo ou mais tarde, vai. É a lei da vida e já muitos milhões e milhares passaram por isso e sim, é possível. Calmamente a vida vai-se encaixando, as peças vāo encontrando o seu novo lugar. Nalguns casos poderá ser mais demorado que noutros, mas vai. 
Tudo se volta a ordenar. A encaixar. Com a mesma naturalidade com que se desordenou.     



"- Como vou ser capaz de deixar este pequeno e indefeso ser ao cuidado de alguém umas horas que sejam?" 
A necessidade de o fazer pode ser bem mais rápida do que o que se prevê. Cedo ou tarde vai ter de acontecer. E nāo há māe normal que o faça sem sentimento de culpa. Maior ou menor, mas sempre lá. Sentimento de culpa sobre o qual se deve trabalhar contra, aprender a contrariar. A deitar para trás das costas. "Os filhos nāo sāo nossos" como se diz por aí. Nāo sāo, no sentido em que nāo nos pertencem como propriedade. A nossa missāo é amparar-lhes o caminho, mostrar e ensinar o mundo. Mas nāo é apenas a nossa missāo. Há mais responsáveis por isso no nosso mundo. A começar pelos avós, pelos tios, pelos primos. Pela família. Pela escola. Um filho é tāo mais feliz lidando com o equilíbrio entre tudo isso. O balanço certo. Equilíbrio que tem de se ir descobrindo com o tempo e na dinâmica de cada família e lugar. Demora tempo, traz questões, dúvidas, ansiedades, sim. Mas encontra o seu encaixe certo inevitavelmente. 

"- Serei capaz de ser māe e trabalhar? Serei? Como?"
Esta é provavelmente a mais recorrente das questões. A resposta certa é: sim, claro. No entanto, e este no entanto é que aterroriza algumas māes… A facilidade dessa conciliaçāo depende dos planos de cada um em relaçāo ao seu futuro. Ser māe é absolutamente compatível com ser uma boa profissional. O que pode ser complicado é pensar em casos mais específicos, mais fora do conceito do emprego dito normal. Por exemplo, nos casos que envolvam viagens, outros países, distância. Essas profissões onde se torna menos fácil colocar essa conciliaçāo em prática, como se chegasse a um ponto limite de uma escolha. É menos fácil, é. Mas ainda assim, nenhuma māe, ou pai, deve colocar de lado as suas ambições de futuro e os seus sonhos. Deve ser tudo muito pensado e estruturado para nāo furar jamais nenhum dos planos. Ser menos fácil é apenas isso. Menos fácil. Nāo significa que seja impossível. Até porque na base desse terror, desse medo, estāo apenas as convenções comumente aceites pelas sociedades. Essa formataçāo, chamemos-lhe assim, é importante para se viver na maioria dos momentos em sociedade. Mas nāo deve toldar visões nem ideias novas que possam trazer novas formas saudáveis de estar, novas formas de vida e mais pessoas felizes. Nesta vida tudo é relativo. As regras sob as quais vivemos sāo orientações pensadas para grandes massas. No entanto, até o que parece ter resultado mais de um milhāo de vezes com outras pessoas pode nāo resultar connosco e ter de se encontrar a soluçāo que mais se adequa a si. A sua soluçāo. Tantas vezes as limitações somos nós que as impomos, somos nós que as aceitamos. Entregando-nos a raciocínios derrotados. O segredo é questionar, pensar  e decidir de acordo com as suas próprias premissas, as premissas da sua própria família. 
O resto, é apenas o que costuma acontecer. Nāo significa que seja o certo. 

"- Vou ser capaz de tornar este bebé num bom adulto, numa boa pessoa neste mundo?"
Apesar de nāo ter chegado lá ainda, de nāo ter ainda criado um filho adulto, acredito nalgumas coisas nesta vida. Se há coisa em que acredito é que as acções sāo provocadoras de reacções. Uma boa educaçāo leva a bons resultados. Claro que há  mais condicionantes que se podem colocar no caminho. Nada é tāo linear assim. Algumas boas māes viram filhos transformarem-se por factores que lhes foram (a elas) absolutamente incontornáveis. Mas é muito improvável que uma educaçāo repleta de amor e com boas doses de direcçāo e amparo, nāo traga ao mundo pessoas que sāo reflexo disso mesmo, do amor e da troca da felicidade. 


A melhor forma de ter um filho feliz é ser feliz. Para ter um bom filho, é um bom começo ser-se um bom pai, uma boa māe. Para criar um bom cidadāo, é um bom começo ser-se um. 
O que somos e o que damos, fará deles também o seu futuro.  
 A maternidade é a mais bela das coisas da vida.   

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