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terça-feira, 11 de novembro de 2014

Valente, Pequena, Pequenita Valentina




Nāo vou a tempo de contar a história da Valentina como gostaria. Com esperança. 
A esperança esventrou ontem, por fim, os braços da māe Amanda e abandonou assim a valente, pequena, pequenita Valentina. 

Esta podia ser uma simples história de um guiāo triste de um filme mais que dramático. Lamento tanto. Lamento porque nāo é. 

Infelizmente, a māe Amanda é real e a história da valente Valentina também.
Uma māe tal como eu, uma filha bebé tal como a minha. 
Uma māe tal como quem me lê, como todas as māes… 
E uma felicidade abruptamente interrompida pela fatalidade de um instante.
Por um incidente. Um acidente. Que se tornou para sempre irreparável. 

Com pouco mais de 9 meses de vida … A Valentina, como era próprio da sua idade, mexia aqui e ali. Apanhava coisas aqui e ali. Fazia coisas aqui e ali. Num ápice, num instante, num piscar de olhos, no tempo de uma luz que se acende, no tempo de um candeeiro que se apaga… As suas māos levaram à boca um gancho do seu próprio cabelo. Assim. Sem hesitaçāo. De uma vez. Gancho na boca. Seguiu… Engoliu. E ninguém viu. Seguiu. Simplesmente seguiu.

Começou assim o maior pesadelo desta māe. Começou assim aquele que acabou por se tornar o fim.
No dia 21 de Setembro a pequenita começou a ter convulções, vomitava, com sangue, ninguém sabia o que se passava. Encontrado o objecto metálico no esófago, a endoscopia alertava para o perigo … 
Num triste dia de Setembro, a Valentina deu entrada no hospital e foi submetida a uma cirurgia de emergência. Um corte com 17 pontos. Recuperou mais rápido do que se previa. 
Valente a pequena Valentina. Pouco mais de 9 meses.
19 dias no hospital. O tempo foi passando, ela foi recuperando. Teve alta. 
Num dia cheio de um caminho que se previa de sucesso. Mas a estrada acidentada atolava de pedras a caminhada. Uma infecçāo leva-a de volta ao hospital, menos de uma semana depois de lá ter saído. 

A 18 de Outubro, esta família novamente de urgência no hospital. O sangue reapareceu, novamente num clic de um candeeiro que se acende, no clic de uma luz que se apaga. O maldito sangue. A māe Amanda na entrada de um elevador, num piso qualquer daquele hospital, viu a sua filha ser reanimada de rompante. Médicos e enfermeiros apressavam-se. Nem tempo havia para uma palavra. 
A māe ali. A filha rodeada. A māe, naturalmente, chorava. Gritava.
Nas ficções o som desaparece, as imagens sobrepõem-se e o tempo suspende. 
Mas foi realidade. 
Reanimada, corria ainda risco de vida. Três palavras: Uma nova cirurgia. 
Pararam a hemorragia. Foi um dos pontos que deu origem a um granuloma. 
A pequena Valentina ficou em coma. Coma induzido até ser possível outra cirurgia.  
06 de Novembro foi a data. Amanda acusava a exaustāo dos factos. 
Acreditava e temia. Temia e acreditava. Seguiram-se dias. Dias eternos de dor, de horror. De espera. 

Os médicos avisaram. A infecçāo afectava agora vários orgāos. 
Os médicos falavam. Amanda já nāo ouvia. Dizia que sim na tentativa de um esgar positivo vindo dali. Dia 07 de Novembro, esta māe escreveu pela primeira vez: "Estou prestes a perder…" 
Amanda perdeu mesmo. Lamento tanto.
A Amanda perdeu ontem a sua bebé, valente Valentina.
A esperança desfez-se ontem nas māos de Amanda. Nos "seus braços a sua filha descansou."
Partiu e descansou. 
Lamento muito. 
Tudo. Lamento tudo.
Força para esta família… 


Este texto, para além de um abraço forte a esta māe, de um abraço a todas as māes que viram partir um filho… 
É um texto também para nos fazer pensar nos mais inofensivos hábitos como māes. 

Agora, mais que nunca, vou repensar tudo. Desde o uso de botões, à mola que prende a chupeta, ao elástico de cabelo, à compressa de limpeza esquecida no muda fraldas, tudo, tudo… tudo em todo o lado. 

Lamento tanto pela pequena, valente, pequenita Valentina. 



8 comentários:

  1. Mil olhos, mil tudo, ainda hoje com quase 3 anos tiro tudo que seja visto como perigo à minha Leonor, mas mesmo com a coisa mais insignificante já apanhei um valente susto. Paz à Valentina e sua familia. Um beijinho

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  2. Sofro sempre tanto quando leio estas coisas. Não consigo te de saber que alguma coisa mal aconteceu a uma criança. Volto e revolto-me, choro , fico a queimar por dentro. Tenho dias e em tenho vómitos e pesadelos ao pensar nas crianças que sofrem seja onde for.
    Já disse a quem me quis ouvir e re-disse a quem não acreditou que se um dia o destino for injusto para mim eu mato-me.

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    1. Calma Sandra. Prevenir é importante. Muito importante. E salva grande maioria de situações. Nāo é possível prever tudo e por isso é importante passar a palavra para que estes perigos vāo diminuindo. Nada disto agora traz a pequena Valentina de volta para esta família. A dor é certamente inexplicável e precisam mais que nunca de todo o apoio emocional. Perder mais alguém por desistência seria a última coisa que uma família nesta situaçāo precisaria. A perda é irreparável sim, sem dúvida, mas a vida desta família só poderá ver dias melhores mantendo a uniāo, juntando forças. A ideia de mais uma perda no cerne de uma família numa situaçāo destas seria uma injustiça ainda maior.

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  3. Que dor na alma eu senti ao ler este texto... realmente os meus instintos de mãe acabaram de ficar de novo em alerta....não posso deixar nada ao acaso. Como a Ana diz, as simples compressas esquecidas no muda-fraldas podem ser fatais...e a minha Maria Leonor já agarra em tudo para por na boca... Temos mesmo que ter mil olhos....o meu receio é que por algum motivo esses mil olhos um dia, uma hora, não cheguem. Paz à alma da Valentina e força para a sua mãe cuja dor não consigo sequer imaginar. :(

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  4. Paz a alma da pequena Valentina e que Deus conforte a sua família, principalmente os pais... um abraço a partir de Angola

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  5. Muita Força para os Pais da Valentina, e Paz a sua Alma...

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  6. Mil olhos, mil cuidados... mas somos humanos... as nossas tentativas serão sempre postas à prova... paz no coração destes pais e que descanse em paz a pequena Valentina!!!

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  7. Escorreram-me lagrimas ao imaginar (ou não, porque não sei imaginar, ninguém sabe) a dor desta mãe. Um gesto tão insignificante, um descuido tão natural... e uma dor para sempre... tanta força para os pais...

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