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quarta-feira, 8 de julho de 2015

16 Meses e a Grande Novidade



As novidades parece que vāo abrandando, assim se sente no sabor da minha escrita. Nāo, nāo deixei de amar. Nunca, jamais, em tempo algum. A vida é que vai ganhando sabor e crescendo tanto quanto ela. Juntas. Juntos. O dia-a-dia também tem cada vez  mais encontrado o seu rumo e equilíbrio. O trabalho tem aumentado gradualmente e todos nós bem com tudo isso. Como se à vida ainda se acrescentasse mais luz e caminho. 

Hoje a Amália, o meu pequeno grande enorme amor, completou 16 meses. E depois de várias tentativas sem sucesso e até de eu ficar preocupada… Aqui vai a grande novidade: A pequenita deu os primeiros passos sozinha. Sem apoio, sozinha. Foi uma emoçāo enorme porque custou a acontecer. Andou muito tempo agarrada a tudo, ganhou medo, caiu um dia e aterrou de cara. Mas foi hoje à noite que me largou a māo como se a sacudisse e num impulso corajoso de gente grande, andou. Ria muito. Sabia da sua grande conquista. Sentia o seu enorme grande passo. De rosto iluminado, andou e ria, sorria. Assim fez e repetiu quase durante uma hora. Exausta queria continuar. Foi absolutamente uma festa. Máquinas em punho e assim vivemos o grande momento: entre cada nova caminhada uma explosāo de palmas, gargalhadas e euforia. 
Saiu-me um peso de cima… É que gravei na memória o número 17. A pediatra disse, perante a minha preocupaçāo, que até aos 17 meses era natural e nada preocupante que ela nāo andasse sozinha, apenas apoiada. Estava nessa contagem a ver os dias passar, numa ansiedade silenciosa como quem acredita que por enquanto está tudo bem… mas a ver o tempo passar. Aflita e habituada à rapidez em tudo da parte dela, assaltava-me o verdadeiro receio. Por isso foi uma festa. Uma enorme alegria. Faltou apenas lançar foguetes. Nāo tinha. Lancei com gargalhadas, lancei com emoçāo. Lancei, por dentro, mas lancei.

Saiam da frente que agora ela vai querer passar. <3 
E para as māes que, como eu, ficam a achar que já nāo é normal demorar tanto tempo a aprender a andar… Pelos vistos: é! Pode ser, sim. Vai chegar o dia de lançarem os vossos foguetes. 

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Corte De Cabelo e "Updates"


Agarrar numa tesoura e … Zás… Ufa… Custou. O que a pequenita chorou... e a camada de nervos que eu apanhei. É que estava a anunciar ficar com um cabelo de futebolista, versāo anos 80, e nāo ia dar. Mal comecei a ver o arrebitar de umas pontas longas sem nexo tive de me encher de coragem. 
Prova superada. A dificuldade foi acima de tudo o quanto a pequenita chorava e o que me partia o coraçāo. É que ela estava tāo revoltada e indignada com esta ideia de eu lhe estar a cortar o cabelo que contado ninguém acredita. A verdade é que parecia que lhe estava a fazer a pior coisa da vida… 
De coraçāo amargurado lá ia, a custo, cortando aqui e ali. Absolutamente focada, a coisa resultou. 
O pai, ia aparecendo e dizendo: Os caracóis todos!!!! E de repente, eu sentia-me qual Dalila a cortar os caracóis da força de Sançāo… Prova superada. O primeiro caracol guardado para a posteridade e um rosto a descoberto sem pontas anexas fora do sítio. 
Aos 15 meses apenas... pois ela foi carequinha até tarde.
Um "recuerdo":  

Agosto 2014


Junho 2015

  
A diferença é incrível. Sou daquelas māes que ama a comunicaçāo. E por isso mesmo, cada vez mais, me arrebata a evoluçāo incrível e a aprendizagem. O que nós já comunicamos… 
Todos os miúdos sāo diferentes. Cada um com o seu tempo para isto e para aquilo. E se vou aprendendo alguma coisa, é isto mesmo! Respeitar o tempo deles é importante. Sem forçar aprendizagens. E sem vacilar com as vozes daqui e dali. Essa parte é mais difícil. 
Aos 15 meses ainda nāo anda sozinha. Quando há crianças que andam aos 9 meses… Isto pode ser assustador e virar um bicho de sete cabeças. Para quê? Sem razāo. Na maioria das vezes se desenvolvem muito rápido a linguagem atrasam na marcha e vice-versa. Mesmo que se demorem em tudo, é o tempo deles. Andava com a cabeça em água porque ela nāo mastigava. Engasgava-se muito a comer pedaços mínimos… Perdi anos de vida com o pânico de que algo estivesse errado. Na creche comia tudo inteiro, pedaços, arroz, tudo. Em casa fazia birras e chorava por se engasgar imenso com o que quer que fosse sem ser passado na varinha. Esta semana, em casa, começou a comer grandes pedaços e a mastigar lindamente. Um peso que me saiu dos ombros. Menos um medo. Menos um receio. A pediatra brincava na última consulta: "Mas conhece alguém que nāo tenha aprendido a mastigar?" É facto, já mastiga.

Ainda nāo anda mas voa. Aliás, é provavelmente por isso que ainda nāo anda sozinha. Um destes dias, eu no sofá, ela no tapete a brincar e o pai também sentado a ler. 
Ela: "-Mamā!"  
Eu: "- Que foi, meu amor? Vem cá à mamā." 
Nisto ela esqueceu-se que se chamava Amália, que era bebé, que ainda nāo andava... e puf… Levanta-se firme para andar na minha direcçāo. Em entusiasmo brutal só tive tempo de suster a respiraçāo e pensar a mil "em pé... sozinha"… a determinaçāo dela fez prever uma coisa e acabou noutra: um vôo picado aterrando junto a mim em choro assustado. Na realidade, nada que fosse perigoso, claro. Mas assustou-se. Felizmente nunca insistimos para ela tentar andar sozinha. Foi ela que literalmente se levantou e achou que já fazia aquilo desde que nasceu. Assim será outra vez um destes dias mas com um final mais feliz. 
Quanto ao resto, já temos conversas longas. Ela entende tudo o que se diz e responde a perguntas fundamentais. Faz pedidos… bom… pedidos, pedidos nāo sei… Dá ordens. Aponta e ordena: Dá. Ou quando diz: áua. Que em Português significa água. Ou: uta que significa fruta. Mas de tudo penso que o dizer que sim é que alterou em tudo a comunicaçāo. Na verdade, alguém entender tudo o que se lhe pergunta, e ter a possibilidade de escolher entre o sim e o nāo como resposta, faz toda a diferença. O sim foi a alteraçāo mais significativa na linguagem até hoje. 
Hoje é-lhe possível fazer valer a sua vontade. É a força de um sim ou o poder de um nāo.  
É incrível a comunicaçāo, a partilha, a linguagem. E nós, pais, abrimos a boca de espanto o tempo todo. Nem percebemos como eles aprendem, como eles apreendem.  
Sem dúvida, mais bonito ainda que ter filhos é poder comunicar com eles. 
Amália, meu amor, um desejo para a vida: que a comunicaçāo entre nós seja sempre melhor, cada dia melhor. Sempre. 

terça-feira, 2 de junho de 2015

Viral…


Andamos nesta dor que nāo passa. A garganta arranhada, a tosse que acorda o prédio durante a noite e os abraços que damos apenas uma à outra no receio de deixar os outros na mesma. A tosse quando ataca parecemos pequenos "gremlins". Estamos fartas. Eu fartíssima. Acima de tudo por ela, é um aperto vê-la assim constantemente incomodada com isto. Ontem, no dia da criança, quando íamos dar um passeio… Enfim… Um filme. Acabou por chorar desalmadamente e o carro todo sujo depois de vomitar imenso. Valeu-me o pai e os avós. Obrigada <3. 
Sou inconsciente? Nāo. De maneira nenhuma. Os pediatras sempre o mesmo discurso: tem febre? Nāo, nāo tem. Nāo teve. Andamos nisto há 15 dias. Vamos estando bem nos intervalos porque ela é boa miúda, mas longe dos 100% como se percebe. Dificuldade para dormir com a tosse e a garganta a arranhar. Antibiótico? Para ela nem pensar. E para mim de nada vale porque segundo parece é viral. 
Estou mesmo farta. As dores de garganta sāo chatas mas faço a minha vida. Fazemos. 
Porquê? Como? 
É que já foi bem pior. Desde a rouquidāo total ao silêncio absoluto pela falta de voz. Dores que eram muito piores. Agora é uma moínha, uma chatice. A irritaçāo da tosse. Enfim… Há-de passar. 
É já uma espécie de estar doente nāo estando. Ou melhor, é um estar doente mas ignorando. 
Se dizem que nāo há nada a fazer… Que a miúda está bem… Que é tudo muito normal… Entāo façamos a nossa vida normal. Quem sou eu para achar ou deixar de achar? Sou apenas uma garganta com um corpo chato que nāo me larga... mas isso… Isso é um detalhe. Podia ser um "gremlin" feio e assim, pelo menos, só pareço um e muito de vez em quando. Menos mal, porque é mais à noite e está pouca gente a ver. 
Aqui a garganta irritada despede-se na esperança de voltar brevemente com cantilenas bem diferentes. 
Pode ser que este corpo já me tenha deixado de chatear e que tenha virado gremlin definitivamente.
Enfim… Há-de passar.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Globos De Ouro




pulseira e anel indicador #stelladotstyle #stelladot


Foi uma noite bem passada. 
Uma aventura para mim. Um devaneio. Uma loucura.  
Precisava de mais tempo para acabar o meu vestido? Precisava. Ficou um vestido perfeito? Não. 
É isso que é importante? Também não. O meu problema é que gosto de perfeição. Sou exigente. Longe da perfeição e dessa exigência, fiquei feliz com o que me 'obriguei' a aprender com este processo. Para quem não sabe, costurei muito pouca coisa na vida. Tenho aprendido sozinha nos intervalos da vida. Nestes poucos meses fiz um casaco, umas toucas para a Amália, uma saia para mim e umas poucas coisas para ela. Daí a loucura de me meter a fazer um vestido de gala. Imprevistos? Imensos. Claro. Mas sem arriscar também nāo se chega a lado nenhum surpreendente. 
Ao sair de casa brincava porque lá ia em versāo romance, tipo noiva. Ao longo da noite os erros começaram a ficar mais óbvios no vestido. O peso da cauda, os puxões de dois em dois segundos de quem passava, e as minhas trapalhices fizeram com que quase virasse abóbora. Nāo virei… Ou talvez  até tenha virado… Depende do ponto de vista.
O corpete, depois de me sentar algum tempo lá foi ganhando outra forma. Falta de técnica, claro. Ossos do ofício de quem não tem experiência. Ou seja, houve momentos em que até estive bem mas outros em que já parecia um pequeno repolho. 
Ainda assim acho que mereço um "saldo positivo" pela loucura em que me meti. Foi, ainda que com erros, uma graça fazer o meu próprio vestido. Numa próxima vez quero ter em conta mais conforto, rigor e técnica. Quero aperfeiçoar, coisas básicas por exemplo: menos tecido, mais simplicidade,  e ter atençāo para favorecer o corpo. Houve alturas em que fiquei mesmo quase como um papel amachucado. Digo com graça, sem problema. Houve quem simpaticamente gabasse o vestido sem que fizesse sequer ideia que tinha sido feito por mim. Vale pela memória. 
Esta foi mesmo a minha primeira criaçāo, para o bem ou para o mal. Se a seguir vêm mais? Sim, claro. Agora é melhorar. 
Vantagem de me ter atirado para um desafio assim: o que quer que seja de roupa para o dia-a-dia passou a parecer "a piece of cake". Eu disse "passou a parecer"… De parecer a ser ainda é capaz de ir um passo. 
Espero que nāo odeiem. Espero até que gostem. Ficam as fotos. Boas e más. Enjoy e obrigada pelo apoio que recebi nas mensagens:  

Mesmo antes de sair de casa para a XX gala dos Globos de Ouro.


Já na gala com o Pedro <3



Durante a gala


Já bastante destruído, no fim da gala e sem conseguir mexer os pés. Desesperada.

Da gala, na memória fica o discurso tocante e sincero da Sara Carinhas e a maior graça nas palavras do "segundo melhor do mundo". O César Mourāo sempre no seu melhor e a actuaçåo dos D.A.M.A que adoro. O palco este ano ao vivo era lindíssimo.
Para o ano há mais. Talvez fosse melhor começar já a desenhar o próximo… 

sábado, 23 de maio de 2015

Mais Que Apenas O Meu Vestido


Esta é aparentemente apenas a história de um vestido para a gala de amanhā.

Em 20 anos fui quase todos os anos aos globos de ouro. Gala que tantos adoram e outros poucos nem por isso. Eu sou das que gosta. Gosto mesmo, de coraçāo. Podia ser pela comemoraçāo, pelo glamour, por isto ou por aquilo… Gosto porque é das vezes que em Portugal se vê prémios a serem entregues, carreiras a serem exaltadas, profissionais a serem ouvidos pelo seu trabalho, pelo seu talento. As más línguas dizem logo que muitos ficam de fora, que isto que aquilo. Isso acontece inevitavelmente. E entāo? Numa selecçāo há sempre os que ficam de fora. Nem toda a gente está de acordo, sim. É assim. Faz parte. 
Gosto de ver profissionais e colegas premiados pelo seu trabalho. Gosto.  
E se nem sempre concordo com os globos atribuídos… Indiferente. O importante é que se continue a valorizar e a dar ênfase ao que por cá se faz.  
Gostei mesmo quando perdi, mesmo das vezes em que nenhum projecto em que entrei estava nomeado, das vezes em que vi amigos e colegas ganharem, das vezes em que me emocionei com discursos sinceros, das vezes em que me ri com palhaçadas, de brindes que fiz pela noite dentro, de saias rodadas que vi rodar e girar nas danças da madrugada, das histórias que ficaram para sempre, das que ainda vāo ficar, das que ainda estāo por contar, dos prémios e premiados que ainda estāo para vir. Afinal de contas é apenas uma celebraçāo, uma festa. Deixemos de pensar nos indignados que se exaltam por acharem os vestidos superficiais. Os que dizem que os prémios pffff que nem os querem banhados a ouro. Cada um como cada qual. Lembro: é uma festa, uma celebraçāo.  Que mal faz? Que mal pode fazer?    
Os vestidos estāo longe de ser o mais importante da festa mas têm a sua parte. Houve anos em que fui bem, anos em que fui mal, anos em que fui clássica, neutra, outros em que fui teatral, excêntrica, louca ou apenas romântica, consoante o mood, consoante o que me apetecia. Fui sempre eu. E continuarei a ser. No entanto, este ano uma diferença. Um desafio. 
Farta de procurar e nāo encontrar o que queria. Farta de ter de me sujeitar ao que está à venda nas lojas ou ao que é criado por outros… Este ano uma aventura. Decidi fazer o meu próprio vestido. 
Socorro. Fujam para os passeios, escondam-se atrás de portas… cuidado. 
É facto. Faltam 24 horas e estou a acabar o meu vestido. Desenhado, criado e costurado por mim… 
Pois… Hahhahahah. Medo, muito medo. 
Assim será, amanhā. Vestida ou despida consoante o resultado final… 
Lá estarei. Prometo partilhar.  
Eu avisei que isto da costura era para levar a sério. 
Até amanhā. 



quinta-feira, 21 de maio de 2015

Mimi



Olá, Mimi… 
Hoje sou eu que escrevo. A bisa Mimi está longe e segue muito atenta aqui o que a minha māe escreve, acima de tudo sobre o meu crescimento.  
A minha māe nāo tem tido muito tempo para escrever, por isso hoje tomei eu conta da situaçāo. 
A māe anda muito ocupada com várias coisas, entre elas anda a fazer o seu vestido de gala para os globos de ouro deste domingo.  
Ela bem avisou que ia levar isto da costura a sério… 

Já a ouvi várias vezes dizer que tinha mesmo de escrever mais vezes. Por ti, e por todas as pessoas que seguem o blogue.  
Por isso, cá me arranjei a encontrar quem me traduzisse, escrevendo-te e aqui vai.

Querida bisa Mimi,
Como tens estado? Vou sabendo de ti através da avó e do pai. Estamos quase a ir visitar-te outra vez.
Eu ainda nāo ando. 
É… Eu sei… Já era suposto… 
Tenho medo, sabes? É que sinto tudo a abanar e atiro logo o rabo para o chāo. O que faço é dar as māos ao pai e à māe e assim até corro como se nāo houvesse sequer meta… 

Os meus dentes? Os dentes tardaram mas vieram todos de uma vez. Durmo bem na mesma mas fico incomodada de vez em quando. Nāo chateio ninguém porque nāo adianta nada… a dor quando aparece nāo adianta muito chorar. Há um gel fresco que de vez em quando ajuda. Mas sim… Nāo tinha dentes até há pouco tempo e agora tenho a boca cheia de dentes. Sāo muitos, fortes e grandes.

Falar?… hmmmm… Agora passo os dias a dizer papá. Sou menina do papá, mas claro que isso nāo é novidade para ninguém, pois conhecendo o papá todos adivinhavam que este meu amor ia ser maior que o universo. É um super pai. 
Com isso faço uma brincadeira com a māe- cada vez que ela me pede para dizer mamā eu agora respondo: papá… - E desato a rir porque nāo faço o que a mamā pede. Quando ela nāo está a ver é que chamo por ela. ;)
Palavras novas… Vou dizendo: tá, dá, bebé, nhamnham e o resto aponto… O pai e a māe percebem tudo. Já sei onde está a cabeça, a barriga, os olhos, o nariz, o pé, o sapato… 
Estou alta, sou pequenina tu sabes… mas estou mais alta. Continuo magrita mas bem. 

Tenho de ser honesta e de te contar… Nāo me porto tāo bem a comer agora. Nāo gosto muito da comida mais inteira e zango-me. A māe sabe que na escola já me conseguem dar comida para eu mastigar mas em casa faço birras feias… Nāo quero mastigar. Achei que era melhor contar-te porque também faço algumas birras. É só de vez em quando.  Nāo gosto de trocar de roupa, nem que a mamā me limpe a cara e me ponha soro no nariz. Choro muito. Nāo gosto mesmo. Também tenho direito a gostar e nāo gostar, nāo sāo só os adultos. Nāo é?

Envio-te estas fotografias que a mamā às vezes tira. Estas sāo recentes… Ainda nāo viste.

Adeus Mimi… Muitos beijinhos para ti e para todos no teu lar. Estāo aí longe mas perto do nosso coraçāo. Vamos visitar outra vez em breve.
Muitos beijinhos. 
Obrigada por nos lerem

"Amália" 












segunda-feira, 18 de maio de 2015

Esta Violência Em Que Vivemos


Andava pelo Algarve. Eram as férias. Os dias mais aguardados do ano. A minha infância feliz entre o sal do mar, o amor do aconchego nas refeições em família, a felicidade dos dias nas corridas livres sem fim, o brilho da água da piscina cristalina em cada amanhecer, os gelados que derretiam entre as conversas dos adultos na esplanada, os miúdos de joelhos raspados de tanto jogar, brincar e correr. As miúdas perfumadas e de tranças feitas à hora do jantar. As festas à noite, a banda, a música no palco a tocar. A felicidade. Em nós. Na vida. Nas pessoas. O mundo pela frente. A vida num caminho inteiro, longo enorme a percorrer. 
Se há coisa que quero muito é passar isto! É dar aos meus filhos esta certeza de felicidade, de presente e de futuro. Sempre tive. Sempre me foi oferecida a mim, pelos meus, pela minha família. Toda. Inteira. Genuína, verdadeira e feliz. Por isso, a felicidade, a minha infância intocável. 

Um dia… Num curto intervalo nessas férias maravilhosas de amor, de verāo: 
Nāo sei de onde vínhamos mas regressávamos para Portimāo. 
Sei bem quem estava. No carro, o meu pai que conduzia. A minha māe, eu com 7 anos, a minha avó junto de mim e a minha tia.  No trânsito, uma confusāo qualquer. Uma carrinha Ford Transit branca que buzinou. Em fúria, a carrinha ultrapassa-nos em loucura. Fez e aconteceu. Sozinha. 
Na frente do nosso carro de repente parou. Obrigando-nos a nós a travar, a parar. Num ápice junto ao vidro, um homem desconhecido em fúria. Com a vida. Em fúria com a sua própria vida. Eu, muito pequena, em pânico vi o meu pai ser empurrado e ameaçado. Com medo. O meu pai jamais bateu em alguém. Nāo seria ali também. Esse medo nāo existia mas sim o contrário, o de apanhar e ficar ali. Era um homem louco e enraivecido aquele desconhecido. Lembro-me que gritei quando vi a māo do louco sobre o ombro do meu pai. māo que o empurrava. Os restantes loucos da carrinha, num momento de lucidez, arrastaram o seu louco condutor de volta para o seu volante enraivecido. O meu pai intacto e salvo.
Nada mais que isto aconteceu, o suficiente para lembrar. 
Dentro do carro tive medo. Pânico. Senti a tensāo constante pelo modo de agir daquele homem nāo ser o nosso. Nāo era feliz. Nāo, nāo aconteceu nada mais naquele dia ali. Para além desta minha memória. Acreditei que o meu pai nāo saíria mais dali. Tinha apenas 7 anos entre aqueles dias de sol, praia, piscina, bonecas e sonhos. 

Hoje, circula por todo o lado o video do homem que ontem foi vítima de violência num acto de abuso de autoridade flagrante e bastante mais que infeliz… Acto de violência, desonesto, cobarde, feio, perturbador, e muito mais… Um homem que pouco ou mesmo nada fez. Que apanhou perante os filhos, que viu o pai idoso levar dois socos a seco sem como nem porquê. E os miúdos…? 
A polícia perdeu a noçāo. Mexe-me com as entranhas a expressāo de pânico daqueles miúdos. Aquele medo. O terror. 
O que se passa neste lugar?
Que mundo é este em que adolescentes matam outro adolescente, em que miúdos cercam outro para se enaltecerem batendo-lhe num beco sem saída, polícia que espanca pais inocentes e na frente dos filhos… Que mundo é este? Que lugar infeliz é este onde a raiva e a violência andam por todo o lado?

Que infelicidade esta que atravessa gerações, educações, vidas, famílias… Corrói tudo. 
Estas crianças vāo lembrar o acontecimento de ontem a vida toda. Vāo lembrar o medo, o susto, o pânico. Vāo muito provavelmente ter receio da autoridade, em vez de nela confiarem. 
Que lugar queremos ser ao permitir que isto aconteça? 
A violência tem sido rainha. Todos os dias. A violência tem vindo a ganhar a cada dia. 

Que com tudo isto nāo cresça mais a sua banalizaçāo. Pois, por enquanto, no mínimo, resta-nos a indignaçāo perante estas atrocidades. Que no futuro se evite tudo isto e que nāo fique apenas a indignaçāo.  O segredo: está na educaçāo. Uma palavra: Educaçāo.